Alfonsín na veia

 Não tinha idéia da comoção que a morte do ex-presidente Raúl Alfonsín iria causar na população argentina. Ontem acordei com as imagens das pessoas em vigília, à noite, em frente à casa do ex-presidente, após o anúncio de sua morte (causada por um câncer de pulmão). Depois veio o dia inteiro de debates e especiais na televisão, que entraram noite adentro, além do acompanhamento ao vivo do velório, realizado no Congresso Nacional. Foi uma aula de Alfonsín e história argentina na veia.

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Pois bem, hoje fui acompanhar de perto a demonstração pública de gratidão ao primeiro presidente eleito no país após a longa ditadura militar, que durou de 1976 a 1983. Era muuuita gente. As pessoas com cravos e rosas, enroladas em bandeiras, com botons com a foto de Alfonsín.

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Quando vi, estava literalmente “empoleirada” numa grade para conseguir ver alguma coisa. Foi assim que conheci Suzana Cruz, uma portenha da União Cívica Radical que gritava sem parar “Raúl, querido, o povo está contigo”. “Um homem íntegro, honesto, que não enriqueceu à custa do povo”, dizia. Aguentamos juntas os discursos de despedida dos políticos (Sarney inclusive) até a saída do cortejo fúnebre. Para ela, assim como para a maioria dos argentinos, o legado político de Alfonsín foi maior que a mega turbulência econômica de seu governo . Era mais ou menos o que tinha ouvido na televisão, na voz de analistas. Entre outros feitos, o ex-presidente criou a Comissão Nacional para Desaparecidos (Conadep, na sigla em espanhol), presidida por Ernesto Sábato, que compilou denúncias sobre os abusos da ditadura. Estas denúncias foram fundamentais para a condenação de militares nos anos posteriores.

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Além da aula de história, foi minha primeira participação em uma manifestação na Argentina, o que é sempre um acontecimento.

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PS:

1. Alfonsín foi enterrado no dia em que é lembrada aqui a guerra das Malvinas, mas isso é outro papo.

2. A primeira foto é do jornal Crítica de la Argentina, a segunda é minha e as duas últimas de Eduardo Baró.

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