O maio de 68, aqui, foi em 69!

O maio de 1968, aqui na Argentina, foi em 1969. E ficou conhecido como “el Cordobazo”. Foi uma rebelião popular que aconteceu na cidade de Córdoba e reuniu trabalhadores, estudantes e uma parte da classe média contra o governo militar de Juan Carlos Ongania, que encabeçava uma ditadura chamada de “Revolução Argentina”. Na época, Ongania havia imposto políticas econômicas a favor de monopólios estrangeiros, congelado salários, intervido nos sindicatos, nas universidades, e dissolvido partidos políticos. Em protesto, durante três dias centenas de pessoas foram às ruas manifestar seu repúdio.  Houve barricadas, carros queimados e combates entre civis e policiais. O saldo: 16 mortos, 170 feridos e mais de 300 pessoas presas. Sexta-feira, 29 de maio, serão comemorados os 40 anos desse movimento, que teve grande repercussão nacional e internacional. Para entendê-lo, no entanto, é preciso voltar um pouquinho mais no tempo.

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Em primeiro lugar, é bom ter dois fatos em mente. Primeiro, que Córdoba é sede da mais antiga universidade da Argentina e a segunda da América Latina. Isso quer dizer que havia um forte movimento estudantil na época. Depois, que desde os anos 50, Córdoba era também o principal centro de produção automobilística da Argentina, sede de empresas como FIAT. Quando ao final dos anos 60 o país vivia sob o autoritarismo e a repressão, estudantes e trabalhadores se converteram, obviamente, no principal grupo de oposição ao regime.

Assim, em 29 de maio de 1969, guiados pelo dirigente sindical Agustín Tosco, trabalhadores e estudantes cordobeses saíram às ruas para manifestarem-se contra a ditadura. Encontraram uma feroz repressão policial que provocou a morte de um jovem trabalhador. A notícia se espalhou pela cidade, causando indignação nas pessoas e, em poucos minutos, Córdoba era um verdadeiro campo de batalha. A manifestação, que começou com 10 mil pessoas, chegou a 30 mil. Mais de 100 carros foram encendiados.

Matéria da revista Time da época conta que: “Cuando la cortina de gas lacrimógeno fracasó en dispersar a los manifestantes, el ejército envió tropas y armamento, mientras los aviones intimidaban disparando ráfagas de ametralladoras por arriba de las cabezas. Finalmente, el ejército ordenó a los soldados disparar a todo aquel que apareciera por las calles sin permiso durante el toque de queda en la noche. Pero ningún toque de queda, ni ley marcial, ni horrible amenaza pudo detener la huelga general al día siguiente”. As forças militares tiveram que se retirar, e Córdoba ficou nas mãos de seus habitantes. As forças levaram três dias para retomar o controle da cidade.

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Esse movimento feriu de morte o regime de Ongania, provocando diversas baixas em seu governo, como os ministros do Interior e Economia. O clima de violência se agravou. Em 30 de junho de 1969, o governo declarou estado de sítio em todo o país. Esta medida, que significava a suspensão das garantias constitucionais dos cidadãos se justificada para “dotar o governo de um instrumento legal adequado para assegurar a paz e a ordem em todo o território da república”. Dessa forma, entre junho de 1960 e maio de 1970 se produziram uma série de acontecimentos violentos e mobilizações sociais que tiveram profunda repercussão em toda a sociedade e terminaram por debilitar ainda mais Onganía.

O feito decisivo para sua caída foi, sem dúvida, o seqüestro do general aposentado e ex-presidente Pedro Eugenio Aramburu, pelos Montoneros, em maio de 1970. Aramburu foi assassinado em 1 de junho e seu cadáver encontrado uns dias depois. Em 8 de junho do mesmo ano, Onganía apresentou sua renuncia.

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No Cabildo Histórico, perto da Casa Rosada, em Buenos Aires, um ciclo de atividades comemora os 40 anos do Cordobazo. Durante toda essa semana, das 10h às 18h, as pessoas estão sendo convidadas a passar por lá e deixar seu testemunho sobre o episódio. A idéia é que o público participe doando fotos e outros documentos, que serão digitalizados e entregues de volta aos proprietários. As informações sobre o projeto estão em www.memoriasdelcordobazo.blogspot.com.

Entrevista com Agustín Tosco em: http://www.elhistoriador.com.ar/articulos/revolucion_argentina/cordobazo.php

Outras informações sobre o Cordobazo: http://www.izquierda.info/modules.php?name=News&file=article&sid=395

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