Milongas em Buenos Aires – primeiros passos

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Foto: Gisele Teixeira

 

Há quem chegue a Buenos Aires com um guia de compras embaixo do braço, ou de restaurantes, ou de livrarias. Eu cheguei com meu guia de milongas – um livro que reúne as 60 melhores pistas para dançar tango, de acordo com horário, dia da semana, público, e até tipo de piso.

A palavra milonga, além de denominar a música das duas margens do Rio da Prata (Argentina e Uruguai), é também o espaço onde os tangueiros se reúnem para dançar. É o baile! Há milongas de todos os tipos – desde as realizadas em clubes tradicionais, com regras rígidas, até as milongas gay.

Uma coisa, no entanto, é comum entre todas – a magia. Ao ultrapassar suas portas, se descortina um mundo maravilhoso. Entra-se em outra realidade. Tanto é que não há uma milonga que tenha porta direto na rua. Sempre há uma recepção, um lobby, um corredor. É imprescindível uma transição entre o mundo cotidiano e o mundo do baile.

Normalmente, isso acontece com a troca dos sapatos. Retirar os sapatos “da rua” ao entrar num lugar sagrado contém um valor simbólico muito forte. De forma que todo o dançarino (a) que se preze tem seu sapato de baile. Além disso, as mulheres sabem a diferença entre uma rasterinha e uma sandália dourada salto oito centímetros.

As milongas são cheias de códigos assim. Normas que é bom conhecer, nem que seja para desrespeitá-las. Como, por exemplo, o “cabeceio”. Nenhum homem vai atravessar a pista para convidar uma mulher para dançar. Tudo funciona na base do olhar e, se há acordo, se fecha negócio com um leve balanço de cabeça. A parte boa é que se a gente não quer dançar, é só fazer uma cara de distraída.

Aceito o convite, os primeiros compassos servem para um conversa rápida, mas durante o baile não se fala – é preciso escutar a música. Os casais dançam em sentido anti-horário. De preferência, os iniciantes ficam no centro do salão e os mais experientes bailam nas bordas (área de maior exposição visual). Ninguém se ultrapassa. Não é uma corrida. Como as pistas são cheias, os movimentos devem ser módicos, com poucos voleios ou ganchos altos. No salão, saltos-agulha podem ser bem perigosos.

É de bom tom dançar uma “tanda” inteira – isto é, um grupo de três ou quatro tangos, e não menos que isso. Ao final (sinalizado por música de outro ritmo), os pares ficam liberados para descansar, conversar, ou simplesmente procurar outros parceiros. E aí, começa tudo novamente. Afinal, o melhor do tango é experimentar uma nova paixão a cada três minutos. Ou encontrar o abraço perfeito!

milonga gisele teixeira

 

2 Comments

  • Claudio disse:

    Minha cara,
    Tudo bem este relato, mas faltou o principal, os endereços das principais (ou melhores) milongas!!!!!
    Assim, você só nos dá água na boca.
    Em tempo, Buenos Aires é lindíssimo e charmoso. É uma grande sorte poder morar aí durante algum tempo. Parabéns e muito boa sorte!
    Um grande abraço,
    Claudio

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