Buenos Aires é coisa de cinema

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Direção, roteiro, fotografia, iluminação. Buenos Aires transformou-se num dos principais destinos para quem quer estudar cinema na América Latina. São pelo menos dez escolas na capital e cerca de 12 mil alunos por ano, atraídos pelo bom nível dos profissionais argentinos, a intensa produção (em 2008 estrearam 80 filmes nacionais) e o baixo custo de vida.

Este é o tema da coluna CARTAS DE BUENOS AIRES, publicada hoje no blog do jornalista Ricardo Noblat, no O Globo. Leia o texto na íntegra AQUI ou abaixo.

Moro a alguns passos de uma das principais escolas de cinema de Buenos Aires e, por isso, acompanho diariamente o entra-e-sai de equipamentos e figurinos. Curiosa, um dia resolvi conhecer o espaço e descobri que a capital argentina transformou-se num dos principais destinos para quem quer estudar cinema na América Latina.

São dez escolas apenas em Buenos Aires e mais de 12 mil estudantes de direção, roteiro, iluminação e outras tantas carreiras técnicas. Além de bons centros de formação, há uma produção intensa no país (em 2008 estrearam 80 filmes nacionais), profissionais consagrados e um baixo custo de vida, o que faz com que estudar aqui seja bem vantajoso.

Conheci dois brasileiros que fizeram essa aposta. Daniel Luz, de Porto Alegre, e Octavio Tavares, de São Paulo. Ambos têm vinte e poucos anos e fazem Faculdade de Direção na Universidad del Cine (FUC), um curso de três anos e meio de duração e mensalidade em torno de 500 reais. Além do preço, eles dizem que o bom é que aqui podem produzir de verdade. Os alunos da FUC, por exemplo, fazem um longa-metragem por ano, além de vários curtas.

Fomentador importante do cinema argentino, o Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA) subsidia desde longas de diretores consagrados até documentários e filmes de animação. Além disso, possui 22 salas espalhadas pelo país, o que garante a exibição da produção nacional. Apoiando este circuito se deve mencionar o BAFICI, um festival de cinema independente que está na 11ª edição. Este ano, foram apresentados 300 filmes do mundo todo, em 20 salas. Além, é claro, do consagrado Festival de Cine de Mar Del Plata.

Mas na verdade é só dar uma caminhada para constatar que Buenos Aires respira cinema. Domingo passado, por exemplo, quando dobrei na Avenida Caseros, aqui em San Telmo, levei um susto. A rua estava tomada de cenários de guerra e gruas para as filmagens de “There be Dragons”, o novo longa do diretor Roland Joffé (o mesmo de A Missão), que vai contar a história de José María Escrivá de Balaquer, o fundador da Opus Dei, discutível instituição da Igreja Católica.

Desde 2001, com a desvalorização cambial, o país se tornou set ideal para muitas películas. Tanto é que o governo teve que criar o “Buenos Aires Set de Filmación”, um órgão que centraliza os pedidos e autorizações para as filmagens nas ruas. São em média duas por dia, entre comerciais, filmes e programas de TV. O último filme de Francis Ford Coppola, Tetro, que estreou este ano, por exemplo, foi inteiramente rodado em solo argentino, parte em Buenos Aires e parte na Patagônia. Mas há cenas da cidade em muitos outros, como Highlander II, Evita, Diários de Motocicleta, O Passado.

Para finalizar, fica a dica de incluir um passeio alternativo para uma próxima viagem a Buenos Aires, o Museu do Cinema, que conta com mais de 300 equipamentos antigos, como projetores e moviolas, 200 peças de roupas, uma biblioteca com 4.000 obras; além 600 filmes sonoros e 20 mudos, inclusive “La Revolución de Mayo”, a primeira ficção feita na Argentina, há exatos 100 anos.

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