Purgatório da beleza e do caos

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Hoje, no blog do Noblat, inventei de falar do final da semana que passei no Rio e do medo que tive ao escutar um tiroteio fortísssimo na Tijuca. Pra que!!!!  Foi instalada a confusão geral. Bueno, só para esclarecer: não estou fazendo campanha, nem “torcendo” para nenhum partido político, embora tenha a minha posição, é claro. Agora, querer me convencer que tiroteio na minha cabeça é normal… já é demais. Me nego a me acostumar com isso. Saí voando do Rio deste vez, isso sim. Outra coisa, os cariocas não ajudaram muito nas urnas nos últimos anos, né?

Tá tudo lá no Cartas de Buenos Aires, ops, hoje Cartas do Rio.

7 Comments

  • Marco disse:

    Te falei …

    Não li teu texto no blog do Noblat, mas imagino a saraivada de críticas recebida.

    A situação na Tijuca é particularmente crítica, pois os grupos rivais ficam cara a cara em vertentes de um vale estreito.

    Até mesmo o Aldir Blanc, um tijucano e tanto, num desses tiroteios, já manifestou sua insatisfação com o lugar em que mora, lá pelos lados da Muda, caminho do Alto da Boa Vista, um lugar outrora agradabilíssimo.

    Mas a má – eufemismo – administração municipal é só uma parte do problema. (Carioca é quem nasce/vive na capital; fluminense refere-se ao estado). A estadual consegue ser tão ruim quanto ou pior. Armas atravessam fronteiras ou chegam ao porto facilmente. As polícias têm um histórico lamentável. Um presente idem. Com a estagnação econômica, o desemprego grassa.

    Quem mais? Ano que vem vai ser ainda pior, pois é ano de eleição, quando a disputa política se acirra e reflete-se / interage com o submundo, já não tão “sub” assim.

    É isso.

  • adriana lobo disse:

    Oi, Gisele,

    Li hoje sua coluna no Noblat. Achei excelente!! Tem mais é que colocar a boca no trombone mesmo, é assustador!! Nós, cariocas, já estamos acostumados, quer dizer, anestesiados, e isso não é bom! Dá que não fazemos nada para mudar, nem mesmo reclamamos, ficamos apenas nos comentários e nas piadinhas.
    Chega de bairrismo, o Rio tem que mudar e precisamos da imprensa para isso.
    A matéria do blog sobre os shows de tango ficou muito boa, tenho certeza que vai ajudar muito.
    Pena que não nos encontramos, mas vou voltar a Buenos Aires em janeiro com minha família e poderemos nos ver.
    Beijos e boa viagem,

    Adriana

  • Marco disse:

    Acabo de ler o texto no blog do Noblat. Ainda bem que não estou pirando, pensei, pois você compartilha da mesma sensação de desesperança que eu tenho em relação à, vá lá, cidade.

    Em um comentário já de alguns dias, afirmava que não tinha mais jeito (a longo prazo todos estaremos mortos). Acho que você achou um exagero meu. Aí está: viu que a situação vai muitíssimo mal.

    Dia desses pensei duas vezes em pegar um táxi às quatro da matina pra embarcar no Galeão. Tem que passar pela Maré. Desisti da viagem. Era a passeio; tive a escolha de não ir naquele voo. E quando não tiver?

    Esse negócio de Olimpíada aqui é uma piada macabra. Assim como o é a Copa na África do Sul, pelas notícias que leio de lá. Mas já percebi que estão muito pouco preocupados com o anfitrião (cidade), com o que este pode oferecer. Ou melhor, estão mais interessados no que o anfitrião (poder público) pode oferecer a essas multinacionais do esporte. À FIFA, por exemplo, já não importa mais se o país que organiza a Copa dela participará com seu time, pois sua participação não é mais garantida. Importam, sim, os negócios. Por isso serão aqui ambos os próximos Jogos.

    É isso.

    P.S. O certo seria “Quer mais?”.

  • Gisele Teixeira disse:

    Marco, foi exatamente o que aconteceu. Achei o teu primeiro comentário, da outra semana, muito amargo. Mas te dou razão agora. Acho que se eu tivesse que lidar com tudo isso todos os dias ia estar um pouco descompensada mesmo.

    Aliás, eu estava bem na Muda, viu? E saí de casa as quatro da manhã…

    Fiquei indignada com comentários de alguns cariocas que dizem que não evitam a Tijuca. Será? Tenho vários amigos que preferem não passar por lá mesmo. Não é loucura de gente “de fora” não.

    De qualquer forma, o Rio continua lindo, apesar de…

  • Marco Aurélio disse:

    Muito provavelmente, os que disseram não evitar a Tijuca são tijucanos. Se não existisse, o termo “bairrismo” deveria ser criado para caracterizá-los. Até entendo, pois foi um bairro agradabilíssimo e de excelentes locais de lazer. Por exemplo, na Praça Saens Peña e cercanias, já houve quinze cinemas; hoje, acho que nenhum. Mas seria sensato que reconhecessem a débâcle.

    Mais recentemente, deixei de ir ao belíssimo Centro de Referência da Música Carioca, lá na Muda, por causa do bang-bang. Houve ocasião de esperar pelo início do show ao som de tiros. E quando saísse, o que me esperaria? Felizmente, nada me aconteceu então. Mas, e na seguinte?

    E essa insânia que nos acomete é só o topo da pirâmide, que se sustenta sobre uma base de pequenas agressões no dia-a-dia desta, vá lá, cidade.

    Grato por sua atenção.

  • Daniel Escobar disse:

    Olá Gisele,

    Parabéns pela coragem de mandar a carta desta semana lá para o Rio. Digo isso porque acho que você já sabia que viriam muitas críticas, como assim realmente aconteceu.

    Eu li os comentários e fiquei impressionado com algumas opiniões, principalmente daquelas pessoas que passaram a achar a violência uma coisa “normal”.

    Outra besteira, no meu ponto de vista, é daqueles que gostam de reforçar o estereótipo do brasileiro que segue feliz e cantarolante apesar da violência, da corrupção, da má educação etc etc etc…

    Sempre que posso por aqui tento desmistificar essa imagem e digo que nós somos sim um povo que sofre muito com tudo isso.

    Só que na maioria das vezes tapamos o sol com a peneira.

    Abraços lisboetas

  • eduardo disse:

    Gisele, gracias por tu nota tan sensible, imposible no acompañar la sensación de un pueblo que quiero tanto.

    Cada pueblo latinoamericano se está enfrentando a su modo con la violencia. Y yo reivindico que pese a su reiteración trágica, pese a la tristeza de las imàgenes ,pese al abuso de los que dicen combatirla, pese a la frustración previsible de cada mañana , mantengamos lo que nos caracteriza como pueblos, sea el humor, la poesía, el arte, la denuncia, inclusive la melancolía.
    Es cierto que no alcanza, que hay que inventar nuevas formas de resistir y mudar esta situaciòn, de dar vuelta la tortilla.

    Bogotá, Rio, Buenos Aires, Santiago de Chile, Guatemala se inscriben de modos variados ante diferentes tipos de violencia: estatal, para-estatal, marginal, mafiosa.
    No debemos naturalizar la violencia, ni la injusticia, no tenemos que aceptar que nuestro cotidiano sea éste.
    Lo paradójico, lo que hiere más es que tanta violencia sucede en escenarios que, de lejos, se ven tan hermosos como siempre.

    “No nos une el amor
    sino el espanto
    Será por eso que la quiero tanto”

    Hoy los versos de Borges resuenan más

    Gracias

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