Cartas de Buenos Aires – O julgamento de Videla

“Mis subordinados cumplieron mis órdenes”

“Reitero y asumo en plenitud mis responsabilidades castrenses en todo lo actuado por el Ejército Argentino en la guerra en contra de los subversivos”, disse ontem o ex-ditador Jorge Rafael Videla.

 

Vinte e sete anos após o fim da ditadura militar argentina (1976-1983) ele está sendo julgado pelo fuzilamento de 30 pessoas em uma prisão de Córdoba.

Outros 11 julgamentos serão realizados na Argentina até o final do ano, com sessões nos tribunais das províncias de Chaco, Santa Fé, Mendoza e na capital Buenos Aires, além de um julgamento na Itália.

Quem não esta no país, pode acompanhar passo a passo estes processos por meio da página www.eldiariodeljuicio.com.ar, montada pela agrupação H.i.j.o.s (Hijos y Hijas por la Identidad y la Justicia Contra el Olvido y el Silencio).

Neste espaço há vasta informação sobre o julgamento, tanto para a população leiga como para as pessoas da área do Direito.

Leia mais sobre este tema no Cartas de Buenos Aires de hoje, no Noblat.

O texto completo está abaixo:

 

Fiquei impressionada com a estrutura montada na internet pela agrupação H.i.j.o.s (Hijos y Hijas por la Identidad y la Justicia Contra el Olvido y el Silencio) para que a população possa acompanhar o julgamento oral do ex-ditador Jorge Videla, considerado o arquiteto da repressão durante a ditadura militar, ocorrida de 1976 a 1983.

Ele começou a ser julgado sexta-feira, em Córdoba, mas serão realizados outros 11 julgamentos na Argentina até o final do ano, com sessões nos tribunais das províncias de Chaco, Santa Fé, Mendoza e na capital Buenos Aires, além de um julgamento na Itália.

“Reitero y asumo en plenitud mis responsabilidades castrenses en todo lo actuado por el Ejército Argentino en la guerra en contra de los subversivos”, disse Videla, na sessão de ontem.

É um momento histórico para o país, que começa a ver punidos os máximos responsáveis pelo genocídio argentino, que deixou um saldo de 30 mil desaparecidos.

Na página www.eldiariodeljuicio.com.ar há vasta informação sobre o julgamento de Videla, tanto para a população leiga como para as pessoas da área do Direito.

Estão publicados resumos das doutrinas jurídicas desta área (como Teoria do Domínio de Fato e Lei de Fuga), síntese da causa, nomes do acusados, dos juízes, dos fiscais, e dos advogados. Além de fotos, vídeos e documentos de áudio (como o primeiro pronunciamento do ex-ditador na sessão de ontem e embates entre os advogados).

Mas, principalmente, informações sobre as vítimas. Ao contar a história de cada desaparecido, eles deixam de ser um número para virar uma pessoa. É chocante. O material é complementado fotos do julgamento e a repercussão do caso na mídia argentina e do exterior.

O ex-ditador é acusado do assassinato de 31 presos políticos, que foram massacrados em circunstâncias diferentes. Outras 29 pessoas também estão sendo julgadas.

Videla foi condenado à prisão perpétua em 1985, mas anistiado cinco anos depois. Em 2007, a Suprema Corte derrubou o perdão, restaurando a sentença contra ele. Como o ex-ditador já é condenado, o julgamento que começou agora não pode elevar seu tempo na cadeia, mas as famílias das vítimas consideram que uma possível condenação pode ajudar a superar as mortes.

No dia 20 de setembro ele será novamente julgado, desta vez em Buenos Aires, acusado de apropriação de 33 bebes nascidos em cativeiro, filhos de prisioneiras ilegais durante a ditadura. A causa é conhecida como “Plano Sistemático” de roubo de crianças, que depois eram entregues a simpatizantes do regime.

Coincidentemente, a principal acionista do Grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble, é acusada por organizações de direitos humanos da Argentina de ter adotado ilegalmente duas crianças que teriam sido sequestradas durante a ditadura. Se isso ficar comprovado, ela pode ser presa.

A pendenga se arrasta há oito anos, mas esquentou nos últimos meses quando a Suprema Corte do país determinou, em maio passado, que os dois filhos, Felipe e Marcela (hoje adultos, fizessem um exame de DNA. As amostras seriam depois comparadas com as demais provas armazenadas no Banco Nacional de Dados Genéticos da Argentina.

Eles forneceram material (roupas) para dois exames, mas existe a suspeita de que ambas as amostras tenham sido adulteradas, já que possuem informação genética de numerosas pessoas de diferentes sexos.

E agora parece que vai demorar em haver uma terceira coleta. Segundo a imprensa Argentina, a família inteira já estaria bem longe do país. Ernestina e os dois filhos teriam ido para os Estados Unidos, via Uruguai.

Durante a ditadura, estima-se que 500 crianças tenham sido separadas de suas famílias.
Até agora, foram encontrados 101 filhos sequestrados.

1 Comment

  • Rasputin disse:

    Meu pai sempre me dizia:
    Meu filho tome cuidado,
    Quando eu penso no futuro,
    Não esqueço o meu passado

    Danço eu, dança você
    Na dança da solidão

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