Por dentro da escola de tortura argentina

Prédio principal da ESMA

Semana passada fiz a visita guiada pelo Museu da Memória, onde entre 1976 e 1983 funcionou o Centro Clandestino de Detenção da Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA).

O recorrido durou mais de três horas e foi uma viagem imaginária ao se viveu nesse local durante a ditadura militar argentina. O dia nublado ajudou a deixar o clima ainda mais pesado.

A visita se concentra no Casino de Oficiales, o alojamento dos oficiais, principal centro de tortura. Para vocês terem uma idéia, passaram pelo local cerca de 5 mil pessoas. Apenas 200 sobreviveram.

O prédio tem três andares e um porão.

Esse porão era a primeira passagem dos seqüestrados, local onde eles eram interrogados e sofriam vários tipos de agressão e torturas. Os métodos mais comuns eram choques, o “submarino seco” (asfixia com saco plástico), o “submarino molhado” (asfixia com imersão), tapas, socos, chutes e pauladas, além de simulações de fuzilamento. A vítima era mantida encapuzada ou com os olhos vendados.

Casino, onde funcionava o centro de tortura

No porão também havia uma oficina de falsificações e tradução de documentos e um local para a elaboração de textos pró-militares – realizadas pelos próprios prisioneiros.

Para completar, um laboratório fotográfico, onde eram reveladas as fotos utilizadas na falsificação de documentos.

No térreo ficava o refeitório dos oficiais e o Salão Dourado, que contava com sistema de rádio, para comunicação interna e externa, e um de televisão para vigiar os presos. No salão também eram realizadas reuniões militares.

No primeiro e segundo andares estavam os dormitórios dos militares, onde pernoitavam mais de 60 homens. Muitos dizem que não sabiam do que acontecia no porão. Ao se caminhar pela Esma, percebe-se que seria impossível não escutar nada.

Entrada para o porão

Após a tortura as vítimas eram levadas do porão para o terceiro andar, onde ficavam algemadas e encapuzadas, as vezes amarradas a bolas de 25 kg. O local ganhou o nome de “capucha”, capuz em espanhol. Pequenas baias formavam cubículos que separavam cada encarcerado.

O banheiro era o único lugar onde podia se conversar. Do local era possível ouvir os gemidos que escapavam de uma sala minúscula, a maternidade, onde as mulheres grávidas ficavam até dar a luz. Os bebês eram entregues à adoção para famílias de militares ou simpatizantes da ditadura.

Calcula-se que cerca de 500 recém-nascidos foram levados da Esma e de outros locais de tortura. A organização Avós da Praça de Maio, que luta para encontrar os netos perdidos, já conseguiu identificar 103 pessoas.

Interior da Capucha / Foto Clarín

Da capucha os seqüestrados eram levados para a capuchita, de onde saíam para os vôos da morte, sempre às terças-feiras. Os escolhidos eram atirados, ainda com vida, sobre o Rio da Prata, de uma altura de 2 mil metros. Alguns corpos eram trazidos pela maré e identificados. Estima-se que 2.500 prisioneiros da Esma tenham sido mortos desta forma.

Não se pode tirar fotos do interior do Casino, mas há uma visita virtual AQUI.

As visitas guiadas são agendadas por email, em

Visitasguiadas@espaciomemoria.ar



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