Cartas de Baires: Cada povo tem o novo que merece

Segue abaixo a íntegra da coluna Cartas de Buenos Aires, publicada hoje no Blog do Noblat.

A direita está em festa em Buenos Aires. O atual prefeito, Maurício Macri, do PRO, obteve no domingo uma vitória arrasadora nas urnas, com 47, 8% dos votos, e deve seguir no comando na principal cidade argentina. Infelizmente.

A disputa ainda vai para segundo turno, mas o quadro é de difícil reversão, tendo em vista que a diferença para o segundo colocado, Daniel Filmus (Frente para a Vitória), apoiado pela presidente Cristina Kirchner, é de quase 20%. A decisão será dia 31 de julho.

Além do alto percentual nessa primeira fase, o PRO também fez 26 bancas na legislatura evenceu nas 15 Comunas (espécie de prefeituras de bairros), que começam a funcionar a partir deste ano. É de se parar para pensar.

A música diz que cada povo tem o novo que merece, mas não me conformo. Enfim, democracia é isso.

Macri é representante do que se chama aqui de “direita cool”. O menino rico (filho de um mega empresário que vota em Cristina e com o qual está brigado há anos) que sai nas revistas de fofoca.

Posa mostrando a casa, o casamento com a empresária do setor de moda Juliana Awada, a lua de mel e, mais recentemente, discutindo publicamente qual será o nome da filha que vem a caminho. Um dia desses reclamou ao La Nación que ninguém lhe fazia perguntas sobre sexo.

Falar de política para que?

Ex presidente do Boca Juniors, entre as habilidades de Macri estão tirar férias (várias por ano) e fazer imitações grotescas de Freddie Mercury. Na própria festa de casamento quase morreu ao engolir o bigode postiço, tornando-se o primeiro político argentino a passar por uma situação de tal categoria. Mas isso não vem ao caso.

O que interessa é que a estratégia “Caras”, aliada ao voto anti kirchnerista, funcionou. Macri foi bem votado inclusive no Sul, onde a coleta de lixo não funciona, os hospitais não funcionam, as escolas não funcionam. Região que ele esqueceu ao priorizar áreas mais nobres como Palermo, Recoleta e Belgrano.

Como bem disse o jornalista Mario Wainfield, ontem, no jornal Página 12, “um governante de centro-direita popular não é o mesmo que a direita tradicional argentina”, e assim esta eleição deve ser lida.

Outro dado interessante é que a maioria dos votantes de Macri já estava decidida antes da campanha, o que faz pensar que o prefeito tem consolidado um espaço ideológico importante na capital. Para os analistas políticos fica a pergunta se esta vitória servirá para avançar também pelo resto do país.

A luta pelo controle da cidade é uma das mais importantes batalhas políticas em meio à guerra eleitoral argentina, cujo ponto culminante serão as eleições presidenciais de outubro.

15 Comments

  • Túlio disse:

    Complicada a eleicao mesmo. De um lado Macri, de outro lado o candidato da Cris. Pelo menos o Macri faz uma politica nao só baseada na porrada e no confronto. Nao é o melhor, mas que é um beco sem saída isso é!

  • Gisele Teixeira disse:

    Cada povo tem o novo que merece!!!
    Eu prefiro o beco ao Macri.

  • Gisele, sabe com o quê eu fico impressionada? Que todo mundo diz odiar o tal do Macri. Que todo mundo diz que não vota nele nem matando. Acho que o povo (principalmente bem esse de Palermo/Recoleta/Belgrano) tem vergonha que dizer que vota no homem, mas quer bem aproveitar o privilégio que ele dá a tais zonas nobres. E é pra ter vergonha mesmo! O Macri é simplesmente vergonhoso. E também acho que as pessoas estão pensando na continuidade das obras que ele espalhou pela cidade (e que nunca deixam de ser obras), com medo de ver esse tempo e dinheiro jogados fora se uma nova administração entrar.
    Acho que você encontrou uma expressão ótima pra descrever o Macri, “direita cool”. Isso é muito portenho rsrs, que nem “decadência cool”.
    (Uma pergunta: aquele “H” amarelo do “Haciendo Buenos Aires” é campanha dele ou da Cristina?)

  • Gisele Teixeira disse:

    O Haciendo (mierda) en Buenos Aires é do Macri.

  • Não é só a direita que está em festa. Sou radical e fiquei feliz com o desempenho de Macri. Apesar de não morrer de amores por ele, é sempre bom assistir à derrota da soberbia e degradação K.

  • Stella Maris disse:

    Entendo vc ficar feliz com o desempenho do Macri porque os radicais ficaram com menos de 2%. A soberbia K aumentou em 25% o número de crianças na escola graças à Asignación Universal por Hijo, colocou mais de 2 milhões de aposentados no sistema, era gente que não tinha direito à nada porque não tinha registros. É a mesma soberbia que reabriu os processos dos crimes de lesa humanidade e colocou na cadeia militares genocidas. Não morro de amores por nenhum dos dois, mas no campo da “direita cool”… nem se eu quisesse, me tirariam por “escurinha”.

  • Oi Gisele, já comentei outras vezes aqui e estou voltando hoje para te parabenizar pelo texto.

    Esse pessoal em Buenos Aires é tão engraçado quanto o pessoal daqui de São Paulo. Viaja cada vez mais, anda de avião pra baixo e pra cima, compra tudo desesperadamente e tudo mais devido aos governos de ESQUERDA, mas votam na direita. Enquanto isso, SP, massacrada pela direita egoísta há séculos, vê a tarifa do ônibus chegar a R$ 3 (e subir 11% em um ano, contra inflação do país em 6%), mas seguem votando na direita. Buenos Aires reclama da demora nas obras do metrô. Enquanto isso, o país cresce a índices impressionantes e maravilhosos desde a emergência dos Kirchner. Aí vão lá e votam no Macri. Sei lá, eu não consigo entender.

    Mas engraçado é ver o desespero dos grandes meios daí. Ficam batendo na tecla da inflação o tempo todo. Aí, quando vão criticar a insegurança, publicam uma pesquisa dizendo que 35% se preocupam com a tal inseguridad e SÓ 3% com a inflação, que eles sempre tentam pintar como um caos que vai levar o país ao fundo do poço. Outro ponto: vivem colocando o Brasil nas alturas, dizendo que aqui tudo funciona bem. Mas espera aí, o governo aqui é de esquerda. Então o governo ótimo é o de esquerda e o péssimo (pra eles) é o de… esquerda também? Cadê a coerência?

    Enfim, como futuro morador de Buenos Aires em 2014 fico em profunda depressão com a vitória do Macri e fico aqui torcendo para que ao menos a Cris seja minha presidenta, acho que isso, pelo menos, está garantido! Que o peronismo kirchnerista continue fazendo bem à Argentina!

  • P Madeira disse:

    Geralmente eu dou uma passada naquele blog, mas dificilmente abro a caixa de comentários, como fiz hoje ao ler o seu post e constatei que você se saiu muito bem. Parabéns pela matéria e pelos comentários.

  • Te re banco Gi! Belo texto, to contigo, to com Fito e vamos torcer pela improvavel reviravolta de 31 de julho.

  • Menina so tem leitor reacionario nesse blog do Noblat, hein? Tipo Fito, to com asco de 47% dos comentarios. Cheio de ” eu li na Veja” kind of people. Vamo combinar? O elitizinha descomprometida…
    Te continuo re bancando Gi. Eh preciso “huevos” para dizer o que se pensa.

  • Gisele Teixeira disse:

    O povo inventa um pseudonimo e depois acha que pode dizer qualquer coisa. Quero ver dizer qualquer coisa com nome e sobrenome. Miss you!!!

  • Joan Pablo Francesch disse:

    A Política atual, é um circo total. Esses pseudo itelectuais, já estão enchendo o saco! É muito fácil, o Fito que mora na Recoleta e vive grande parte do ano, fora do país, criticar, comentar e apontar o seu descontentamento, mas no fundo, não vive o que pensa. Chega de Hiprocrisia, tudo isso é um grande circo, para ver qual palhaço é o mais engraçado. Que toquem as cornetas! FIFIFONFON!
    Saludos Confrades!
    Joan Pablo Francesch.

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