Segue abaixo a íntregra da Coluna Cartas de Buenos Aires, publicada hoje no Blog do Noblat.
“Ninguém rebaixe à lágrima ou acusação/ esta declaração do poder/
de Deus, que com magnífica ironia/ me deu ao mesmo tempos os livros e a noite”.(Borges)
Levei quase três anos para pisar pela primeira vez na Biblioteca Nacional da Argentina,em Buenos Aires. Uma injustiça!
Além de estar em uma região lindíssima, no coração da Recoleta, e de ter uma história interessante – foi dirigida pelo escritorJorge LuisBorges durante 18 anos e construída onde um dia foi a residência do presidente Juan Domingo Perón e de sua esposa Evita -, possui um acervo de cair o queixo.
São mais de 2 milhões de volumes, entre livros, publicações e manuscritos históricos armazenados em seus imensos porões. Entre eles, uma primeira edição de Don Quixote, a coleção literária pessoal do general Belgrano, uma Bíblia de 1445, mais de 300 mil partituras de musica e uma gigante sala de mapas antigos.
Esta é a terceira sede da Biblioteca, que desde sua fundação, em 1810, funcionou na Mansão das Luzes e depois na rua México.
O prédio atual, de sete andares (sendo três subsolos) nem é tão imponente. Uma laje de concretoem forma de T, em um estilo chamado “brutalista”, de autoria dos arquitetos Clorindo Testa, Alicia D. Cazzanica e Francisco Bullrich.
Mas isso é o de menos. Motivos para visitá-la não faltam!
Fui até lá no final de semana para visitar a mostra Borges Leitor, que expõe pela primeira vez os livros doados pelo escritor à instituição. São obras (mais de mil no total) que ficaram zanzando nos porões da biblioteca durante 30 anos. Encontradas recentemente, deram origem ao estudo Borges, livros e leituras, publicado no ano passado.
Parte desse “hallazgo” está em exposição. A maioria dos livros possui marcas e anotações pessoais de Borges, com sua letrinha miúda, e também de seu circulo íntimo, o que permite reconstruir o processo de leitura e seguir as “pegadas” do escritor.
“As anotações destes livros deixados por Borges mostram persistências que sustentou durante décadas. Volta a alguns autores e obras, rastreia os mesmos temas filosóficos: a Divina Comedia, o eterno retorno, o infinito, o budismo, a cabala, textos de religião lidos como tratados de ciências ocultas e magia. Todo o que permite pensar o paradoxo, que é a grande figura borgeana”, afirmouBeatriz Sarlono catálogo que acompanha a exposição.
A Biblioteca Nacional conta ainda com uma sala de leitura para não videntes, inaugurada em 1993.
Detalhe: além de Borges, a Biblioteca Nacional teve entre seus diretores o historiador Paul Groussac e o escritor José Mármol. Os três ficaram cegos durante seus mandatos!
Abaixo, a primeira parta de uma conferencia de Borges sobre sua “modesta ceguera personal”.
,EL PINTOR QUE ME DABA CLASES
ME DIJO QUE EL AMARILLO ERA EL COLOR QUE MÁS SE DESTACABA .
ES MUY INTERESANTE ESCUCHAR A BORGES.DECIR QUE NO SOPORTABA AL PRINCIPIO DE SU CEGUERA,NO VER EL NEGRO.
A MÍ ME ASUSTA EL NEGRO.NUNCA PUDE DORMIR EL LA OSCURIDAD TOTAL
Y EL NÚMERO TRES SE PODRÍA ADEMÁS RELACIONAR CON BORGES.
SU ABUELO, SU PADRE Y ÉL MURIERON CIEGOS.
Y COMO CONTÁS EN TU ARTÍCULO TRES DIRECTORES DE LA BIBLIOTECA ERAN CIEGOS.
BORGES HABRÁ ESCRITO SOBRE EL NÚMERO TRES.?
Gisele,
a Biblioteca Nacional é maravilhosa, e tem ótimo acervo.
Mas a Biblioteca del Congresso de la Nación, é a melhor biblioteca que encontrei em Buenos Aires. pessoal excelentemente treinado, acervo super bem conservado, serviço de digitalização, mesas de leitura, tudo da melhor qualidade. o catálogo que pode ser pesquisado por internet está muito bem organizado.
para a minha pesquisa sobre Tango, foi o lugar onde mais referências pude colher.
recomendo!
http://www.bcnbib.govar
Lorene, eu nunca entrei no Congresso, voce acredita? Uma vergonha! Bom saber que posso pesquisar por internet antes. Por falar nisso, a tua tese tem algo da história do tango danca no Brasil? Gracias pela dica.