Cartas de Baires: Parecido não é igual

Segue abaixo a íntegra da coluna Cartas de Buenos Aires, publicada hoje no Blog do Noblat.

 

Estou meio embaraçada, e não “embarazada”, de tocar nesse assunto. Mas me parece importante.

Setembro é o mês do Brasil na Argentina e teremos uma série de eventos brazucas em Buenos Aires. A celebração começou no fim de semana e instalou uma discussão aqui em casa, já que muitos artistas estão dando entrevistas e palestras no nosso conhecido portunhol: é importante falar bem o espanhol ou apenas o suficiente para se comunicar?

Fico dividida. Para viagens em geral, me parece que o importante é se fazer entender. No caso de um profissional, não. Melhor falar em português correto (que certamente os argentinos compreendem) do que em um espanhol com erros de gramática e concordância.

Mas nem todo mundo pensa assim. Muitos brasileiros que vêm à Argentina – artistas inclusive – batem no peito e dizem “yo falo portunhol” como se isso fosse um orgulho.

Aí acontecem coisas engraçadas como a entrevista da Xuxa, recentemente, para um programa de televisão. Ela quis colocar à prova todo seu espanhol e disse que dormia com edredon de “pene de ganso”. Tudo bem que ela queria dizer “pluma”, só que “pene” é “pênis”.

Há escritores, como Xico Sá, que defendem o “portunhol selvagem” e músicos, como o argentino Kevin Johansen, que compõem em portunhol e brincam com isso. No Festival de Cinema Independente do ano passado foi apresentado, inclusive, o primeiro longa em portunhol. Chamado, não à toa, de O Provocador.

O problema é que há toda uma tolerância com os artistas que nem sempre existe com a gente “comum”. Sorviete de moriango e uma cueca cuela na miesa pierto da rranela é horrível!

Importante: não falo somente em relação aos brasileiros com o espanhol. O contrário também. Se muitos conterrâneos acham que é só colocar um ditongo nas palavras e já estamos no espanhol, muitos argentinos acreditam que tudo em português é no diminutivo. O vídeo em anexo, comercial de uma empresa, é muito engraçado e ilustrativo.

Mesmo para turistas brasileiros, que não tem a preocupação em falar perfeito, sugiro que montem pelo menos um mini dicionário de sobrevivência para viagens.

Por exemplo: garçom é mozo, e moço é muchacho. Vinho se toma em copa e não em taza, que é só para café! Sobrenome é apellido e apelido é apodo. Jantar se diz cena, e uma cena de teatro é escena. Talheres são cubiertos, escritório é oficina, e oficina é taller! Contestar é responder e não discordar, e cartão é tarjeta e não cartón, que é papelão.

Exatamente o que a gente não quer que nenhum brasileiro ou argentino faça!

Papelón! Ou Papelão!

 

12 Comments

  • É verdade, Gisele. Fiz a mesma pergunta que você esses dias. Sábado eu fui ao Malba ver uma conversa entre o Santiago Nazarian, o Moreno Veloso e o João Gilberto Noll (divino!) e foi um saco ter que ouvi-los em portunhol. Principalmente porque eu imagino que os argentinos entendem menos ainda que se os caras falassem em português! Ficou feio, de verdade.
    Eu voto pelo bom português e bom espanhol, sempre!

    • Edu disse:

      Estábamos ahí!

      Moreno habló en español, con algunos errores, pero muy bueno, claro y entendible. J G Noll un poco menos, pero su lectura de la traducción en español fue muy fea, con fonética rara. Nazarián fue portunhol clásico.

    • Gisele Teixeira disse:

      Natália, o portunhol não me incomodou aquele dia. Me incomodou o fato de Moreno (que eu adoro!) ser convidado para participar representando o Brasil em um festival de literatura e dizer que quase não le! ç

      Verguenza!

      • Eu achei que o maior problema, na verdade, é que a composição da mesa não funcionou lá muito bem… Eu não conhecia o Moreno, o Noll havia visto na Flip (e sabia como “venía la mano”) e o Nazarian conhecia o blog. Acho que o Moreno não era pra estar ali; alguma coisa falhou na interação entre os três, não houve fluência, e por vezes cheguei a pensar: “se eles falassem em português será que o negócio rolaria mais legal?”. E, sim, foi frustrante essa frase do Moreno; na hora até fiquei em dúvida se era isso mesmo que ele queria dizer rsrs.
        Infelizmente não consegui ir em mais nenhum evento (emprego novo [!] e semana de seleção de doutorado), mas agora vou botar as pilhas aqui pra entregar um texto hoje e conseguir ver a homenagem à Clarice no Malba. E vocês?

      • Gisele Teixeira disse:

        Oi Natalia, vou tentar ir na homenagem a Clarice também. O problema é que comprei ingressos para ver O Estudante às 22h, no Gaumont, e nao sei se vai dar tempo para as duas coisas. Emprego novo??? Conta tu-do!!!

  • Cada vez que eu venho aqui fico mais em dúvida!! Não sei se gosto mais do teu texto ou das tuas fotos!! Os dois estão cada dia melhores! Abração!

  • martha disse:

    me parece que a xuxa le habrá costado mucho encontrar un almohadón
    tan original. porque original, es original. qué duda cabe!

  • martha disse:

    ADEMÁS EL SIGNIFICADO DE LAS PALABRAS EN CASTELLANO Y PORTUGUÉS, QUE PARECEN IGUALES Y NO LO SON, ES MUY GRACIOSO.
    QUIEREN EXPLICARME PORQUÉ LA PALABRA GAUCHO ,EN BRASIL SE TRANSFORMA EN GAÚCHO?

  • Muito bacana a matéria!
    Meu noivo é argentino, e há 2 anos namoramos em portunhol. Sempre nos entendemos bem via msn e e-mail, mas pessoalmente às vezes é preciso paciência para repetir eou explicar o que queremos dizer kkk
    Agora ele decidiu vir morar no Brasil, e está estudando português.
    Vou mostrar esta reportagem pra ele.

    Besos!

  • Liana disse:

    Não deixe de visitar o Blog da Associação Amigos do Caio Fernando Abreu
    http://www.associacaocaiof.blogspot.com

  • Antonio disse:

    Gisele:
    Me fez repensar e perceber meus papeloes em alguns encontro politicos pela AL.
    Segunda procuro um curso.
    Obrigado

    • Gisele Teixeira disse:

      Ai Antonio, agora eu fiquei com vergonha!
      Mas defendo que, na dúvida, melhor falar sempre em portuguës do que em espanhol Tarzan.
      Com a base que a gente tem, loguinho fica afiado no espanhol.
      Um beijo

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