O jardineiro fiel entre as estrelas

“O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente porque Deus, se é que existe, anda distraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé – e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não é só bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal”. (Zero Grau de Libra, Caio Fernando Abreu).

A astróloga Amanda Costa lançou este mês, em Porto Alegre, o livro 360 Graus – Inventário astrológico de Caio Fernando Abreu. A obra é resultado de sua tese de Mestrado em Literatura Brasileira, orientada por Luis Augusto Fisher, defendida na UFRGS.

Para “caiomaníacos” como eu, que não podem esperar chegar o livro, o texto acadêmico pode ser lido AQUI.

A obra editada traz cartas inéditas de Caio, mapa astrológico e aborda novos aspectos da produção literária do escritor nascido em Santiago do Boqueirão. Amanda analisa e interpreta a hermenêutica simbólica em Triângulo das águas (1983) – sexto livro de Caio -, buscando elucidar os sentidos evocados pelas imagens arquetípicas ligadas à tradição da Astrologia presentes nos textos, com o objetivo de ampliar a sua compreensão. Ainda, a partir da revisão da obra completa de Caio – romances, contos, crônicas, peças teatrais –, a autora identifica os traços do simbolismo astrológico, sua vinculação com a mitologia e as conotações psicológicas e existenciais.

Agora em setembro foi criada também a Associação dos Amigos do Caio Fernando Abreu, que busca preservar, organizar e divulgar a obra do escritor. O site oficial está AQUI.

Por sorte, Caio começa a ser editado em espanhol. Onde Andará Dulce Veiga saiu pela Adriana Hidalgo;  e Morangos Mofados e Pequena Epifanias pela Beatriz Viterbo.

“En una carta a su amigo Zezim, fechada en 1979, Caio lo aconsejaba: “No hay ningún demonio interponiéndose entre la máquina y vos. Lo que te pasa es una cuestión de honestidad básica… Esa preguntita: ¿realmente querés escribir? Dejando de lado el tema del dinero, ¿todavía querés hacerlo? Entonces andá, buscá bien profundo, como dice un poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, apagate el cigarro en el pecho / decite a vos mismo lo que no te gusta escuchar/ contate todo. Eso es escribir”.

7 Comments

  • Lara disse:

    Oi, Gisele!
    É a primeira vez que escrevo aqui. Conheço seu blog há um tempão e gosto muito dele, sobretudo, quando você fala sobre o Caio.
    Pesquiso a obra dele e fiquei aqui sonhando “quem sabe um dia ela não vá comentar meu trabalho…” Ainda bem que sonhar não custa nada, né?! Enquanto isso, dou andamento as minhas pesquisas.
    Já li a dissertação de mestrado da Amanda e gostei bastante dela. Vou comprar o livro dela com certeza. Especialmente para ler as cartas inéditas.
    Obrigada pelo seu blog, tão bacana, com o qual posso aprender sempre.
    Um abração,
    Lara

  • Gisele Teixeira disse:

    Que bacana, não sabia. Vai me atualizando!!!!

  • Ana Valeska disse:

    Adorei o texto.

  • Andrea disse:

    Gisele:
    Obrigada por esse presente – Amanda estudando Caio. Moro em Porto Alegre e acho incrível que nos atualizas de coisas da terra morando aí ao lado.

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