Cartas de Baires: Para seguir cantando

Segue abaixo a íntegra da coluna Cartas de Buenos Aires, publicada hoje no Noblat.

Tinha apenas 11anos quando escutei Mercedes Sosa pela primeira vez. Ela cantava com Milton Nascimento o tema Sueño con serpientes, gravado no disco Sentinela, lançado pelo brasileiro em 1980. Fiquei impressionada. Segui escutando La Negra por muitos anos. Adolescência, faculdade. Depois, mais tarde, quase decorei o disco no qual ela interpretava Charly Garcia. No fim, perdi seu rastro nos últimos anos.

Quando vim morar em Buenos Aires, a redescobri. Mercedes tinha lançado um álbum de duetos muito bom, com parcerias com Gustavo Ceratti, Charly Garcia, Joaquim Sabina, Jorge Drexler, Caetano, Luis Alberto Spinetta, que fiquei ouvindo por meses a fio. Uma jóia.

Agora em setembro, passados quase dois anos de sua morte, ocorrida em 4 de outubro de 2009, foram anunciados dois projetos em homenagem à cantora. O lançamento do disco “Y seguí cantando: canciones censuradas e Inéditas”, com 15 temas proibidos durante a última ditadura militar na Argentina (1976-1983), e a criação de um espaço permanente em sua memória.

O disco é o primeiro volume de projeto levado a cabo pelo selo Universal Music, que já remasterizou os 35 álbuns que compõem a discografia da artista. Curiosamente, a mesma empresa que acatou as ordens da ditadura, agora devolve ao publico o que um dia lhe foi negado.

O “Centro Cultural de Música Popular Latinoamericana. Colección Mercedes Sosa” está em obras e será em San Telmo, ao lado da igreja, onde um dia funcionou uma penitenciaria, em um espaço doado pelo governo da Argentina. O prédio terá diversas salas e um espaço para exposição de vestuário, correspondência, fotos e objetos pessoais de Mercedes Sosa, além de salas de ensaios, cafeteria, restaurante, biblioteca e loja.

A Fundación Mercedes Sosa, impulsora da iniciativa, também prepara um filme sobre a cantora, chamado “La Voz de Latinoamerica”. A película será uma espécie de “roadmovie”, com direção de por Rodrigo Vila, cabeça da produtora Cinema 7, em parceria com Fabián Matus, único filho da interprete.

É o resultado de uma viagem pela America, iniciada pela Argentina até chegar aos Estados Unidos, passando por Cuba. Terá ainda imagens também de Espanha, Alemanha, Israel e Japão. Nesse caminho, músicos e personalidades que tiveram contato com Mercedes falam sobre a influência dela em suas vidas.

Entre os entrevistados, artistas como Julio Bocca, Silvio Rodríguez, Sting, Caetano Veloso, Chico Buarque, Shakira, Joan Baez, David Byrne, e Daniel Barenboim. Mas também políticos como Luiz Inacio Lula da Silva, Cristina Fernández de Kirchner, Michelle Bachelet, José Mujica, Felipe González, e Simon Peres.

Por enquanto, deixo vocês com um documentário gravado durante a elaboração do disco Cantora. Quem sabe mais gente não a redescobre também!

1 Comment

  • Ricardo disse:

    Maravilha! Homenagear Mercedes Sosa é, com certeza, homenagear a América Latina. Também ouvi Mercedes Sosa pela primeira vez num LP do Milton Nascimento onde eles cantavam Volver a los 17. Mas também tive a honra de assistir um show dela em minha cidade, Santos, no início dos anos 80.

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