Buenos Aires lisérgico

Segue abaixo a coluna Cartas de Buenos Aires, publicada hoje no blog do Noblat.

“Eventos podem caminhar completamente pela crosta superior (celebrando Shakespeare) para o ordinário (exibições do programa de TV Absolutely Fabulous)”.

“Este é um lugar onde o conceito de milonga, olhando nos olhos de toda uma sala, para desenhar um homem e uma mulher juntos para a pista de dança vigorosamente mantida”.

Entenderam as duas frases acima? Pois é, nem eu.

Elas são apenas algumas das muitas sentenças absolutamente sem sentido que encontrei no guia de viagens Frommer’s Buenos Aires, edição em português. O livro é um acinte ao consumidor e tem, além de frases non-sense, erros de gramática e ortografia. Para completar. usa uma linguagem chula e comete equívocos históricos graves.

Em alguns casos não resta nada senão o espanto, como no capítulo sobre as Madres da Praça de Maio, em que o autor conta que os filhos dos desaparecidos durante a ditadura eram dados “como brindes” a famílias de militares que não tinham suas próprias crianças.

Creio que o livro no original é bem intencionado. O problema é a versão em português, que deve ter sido feita por um programa de internet, sem nenhuma revisão (embora os nomes do tradutor e do revisor constem do expediente). Além disso, a edição é de2009, a última feita para o nosso idioma, totalmente desatualizada.

Sinceramente, não entendo como uma editora de livros de viagem importante como a Frommer’s coloca uma obra dessas no mercado. Espero, com esse texto, alertar alguns turistas que estejam com viagem marcada para Buenos Aires. Gente, esse guia definitivamente não!

Logo nas primeiras páginas fiquei indignada, mas depois tive acessos incontroláveis de riso. Como na descrição do restaurante El Obrero, na qual o autor esclarece que “avós não fazem parte do cardápio”.  É tão absurdo que não consegui parar de ler.

Em uma das descrições de uma casa de show, o tradutor destaca que o lugar tem “móveis glamorosos descamisados, alguns sem camisa, segurando bandeiras”.

Os conselhos também são interessantes: que o visitante não se esqueça de andar pela linha A do metrô, “pelo menos durante sua estadia em Buenos Aires”, que jante em um dos restaurantes de Puerto Madero, de frente para o “mar” e visite alguns bares “reencarnados”.

Em uma coisa pelo menos tenho que concordar. O autor é absolutamente honesto. Ele diz que a área de La Boca é “repulsiva e ofensiva aos visitantes”, que Palermo é um local onde os designers “se deram bem” e que para ser atendido no Tortoni o cliente tem que ficar “pulando”. Para completar, o texto destaca que muitas coisas aqui podem ser esquisitas ou cafonas, “dependendo do seu gosto”.

Colocaram alguma coisa no Malbec da equipe editorial.

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