Cartas de Baires:Táxi!

Dois taxistas reanimaram minha fé na humanidade recentemente. Por isso a coluna Cartas de Buenos Aires de hoje é sobre eles. Com ou sem aumento da bandeirada. O texto original, no Noblat, está AQUI. 

Achei essa foto na internet e adorei!

Era quase meia noite quando tocou o interfone aqui em casa. Meu primeiro impulso foi não atendê-lo. Afinal, numa hora dessas, quem podia ser? A curiosidade venceu, ainda bem.

Era o motorista de um taxi que havia tomado no dia anterior, entregando os sapatos de tango esquecidos no banco de trás do carro. Economia: 400 pesos. Fiquei super feliz e quis lhe dar uma “recompensa”, mas ele não aceitou.

Uma semana depois, o Edu, meu companheiro, esqueceu uma porção de exames pré-cirúrgicos em outro taxi. Enquanto nos lamentávamos por possivelmente ter de adiar a operação que ele faria, plim, toca o interfone. Outro motorista que voltava. E, novamente, recusava a famosa propina.

Buenos Aires tem cerca de 38.400 licenças para taxi. Isso significa que há aproximadamente um taxi para cada 70 habitantes. Uma quantidade alta se comparada com outras cidades como Nova Iorque, por exemplo, com 13 mil carros (um para 650 habitantes).

Nesse universo, tem malandro que se esquece de ligar o taxímetro, tem gangue que repassa notas falsas, tem taxista que fuma, tem carro velho. Mas também tem muita gente boa, historias engraçadas, figuras.

Como o Rodolfo Cutufia, o “taxista das agendas”, que me trouxe em casa esses dias e depois vim saber é praticamente uma lenda em Buenos Aires.

Motorista da empresa Mi Taxi, Rodolfo espera a gente com balas e chocolates e tem 65 agendas com mais de 100 mil mensagens de passageiros. Já foi tema de matéria nos jornais Clarin e La Nación, mantém o projeto Estrechando Manos, e se orgulha de ter sido reconhecido até pelo Vaticano por sua hospitalidade. Isso tudo ele me contou em menos de dez minutos de viagem, enquanto jogava agendas no meu colo.

Além de numerosos, os taxistas portenhos são famosos por opinar sobre tudo. Política, esporte, cultura. Tanto é que muitos mantêm blogs. Alguns, famosos, como o Confissões de um Taxista, publicado no La Nación por Carlos Guarella.

E também inspiram projetos. O Taxi Gourmet, da jornalista norte-americana Layne Mosler reúne apenas sugestões de taxistas sobre os melhores lugares para comer. Nasceu aqui e ganhou o mundo. E o Pasión por Buenos Aires distribuiu cinco mil exemplares do livro “Homero Manzi, Poeta de Arrabal” pelos bancos de passageiros.

Entrar em um carro preto e amarelo faz parte da vida nesta cidade (mesmo com o aumento que chega este mês), bem como da viagem de qualquer turista que se preze.

É esticar a mão, gritar táxi, e se preparar para ouvir alguma história.

Mas por favor: nada de pagar com nota de 100 pesos!

5 Comments

  • Gisele Teixeira disse:

    Não o mencionei na matéria porque não tinha espaço, mas uma das melhores histórias com taxistas que tenho foi com o Walter Cespi, que de tão versátil conseguiu fazer ponta em TODAS as matérias da série Buenos Aires que produzi para a Globonews!!! Figuraça! Se alguem quer um taxista bem educado, que fala muitas línguas (morou na Itália) e que ainda dança tango é só me mandar um email que envio o telefone dele.

  • marhta disse:

    NOTA BUENÍSIMA!!!! A VECES TENGO QUE TOMAR TAXIS, Y ES VERDAD.
    SALVO EXCEPCIONES ,SON AMABLES Y OPINAN SOBRE TODO.ES CIERTO!!! TAMBIÉN,CUENTAN HISTORIAS GRACIOSAS. EN OCASIONES, HAY TAXISTAS MALHUMORADOS, PERO NÓ CONTRA LOS PASAJEROS.
    ES POR PROBLEMAS DE TRÁNSITO, CORTES ETC.
    Y ADEMÁS, SE VE QUE SON RESPONSABLES.AL TRAER LO QUE UDS. SE OLVIDAN EN EL ASIENTO. QUÉ CABEZA!!!

  • FamiliaS disse:

    Aproveitando o post de hoje deixo um link de um projeto muito interessante que fizeram com os taxistas daqui de Buenos Aires.
    Não sei se você já viu,mas adorei a iniciativa!
    http://youtu.be/QzmlUNTblvo

    Abraços,
    Naiara

  • Pingback: Bistrôs

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