Dicas de Lisboa: Fernando Pessoa

Nos encontramos (e desencontramos) com Fernando Pessoa diversas vezes em Lisboa.

Um dos encontros foi na Fundação Calouste Gulbenkian, que estava com a uma exposição dedicada ao poeta e aos seus heterônimos,  chamada “Fernando Pessoa, plural como o universo”. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, a mostra tinha  raridades como a primeira edição do livro Mensagem, com uma dedicatória escrita pelo poeta, e o baú onde ele guardava seus texto. É a mesma exposição que esteve em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa. Ficamos horas por lá, desvendando cada cantinho.

O Edu e eu, descobrindo com Pessoa que também somos múltiplos

 

O desencontro foi na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. A gente tentou chegar lá duas vezes, e em nenhuma deu certo. Na primeira, nos perdemos. E na segunda o lugar estava fechado.

Inaugurada em novembro de 1993, a Casa Fernando Pessoa é um centro cultural destinado a homenagear o poeta e a sua memória, criado no local onde ele passou os seus últimos quinze anos de vida, em Campo de Ourique. Tem um auditório e uma biblioteca exclusivamente dedicada à poesia, além de uma parte do espólio de Pessoa (objetos e mobiliário que pertenceram ao poeta e que são atualmente patrimônio municipal).

No primeiro piso está o último quarto de Fernando Pessoa, reconstituído tal como era, com alguns móveis que lhe pertenceram e que o acompanharam ao longo de uma vida de mudanças de habitação – dezesseis no total. Neste quarto encontra-se a comoda onde Fernando Pessoa teria escrito, na noite de 8 de março de 1914, três dos seus poemas maiores: O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, A Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa, e a Ode Triunfal, de Álvaro de Campos.

Quarto do poeta, tal como era antes

 

Mas como a vida é real e de viés, nos deu um presente. Outro encontro.

Vejam bem que casualidade, no último dia da viagem conhecemos a arquiteta italiana Daniela Ermano, que fez a reforma da casa de Pessoa, e que nos presentou com uma noite contando fatos inéditos da vida do poeta. Uma honra!

Ela também era amiga do escritor Antonio Tabucchi, um divulgador da obra de Fernando Pessoa, de quem foi tradutor e sobre quem escreveu. Tivemos acesso a um texto inédito de Tabucchi, que justo veio a falecer semana passada.

De origem italiana, o único livro que Tabucchi escreveu em português chama-se “Requiem”, uma obra que é “uma alucinação em torno de Fernando Pessoa” e simultaneamente uma declaração de amor a Portugal e, em particular, a Lisboa. Dirigida pela escritora Inês Pedrosa, a Casa Fernando Pessoa realizou, justamente hoje, uma maratona de leitura integral do “Requiem”.

Ficamos sabendo da morte dele num dos lugares mais lindos que já pisei. Cap de Creus, no norte da Espanha.

Um brinde à obra que nos deixou Tabucchi

Um terceiro encontro com Pessoa veio por meio da obra A máquina de fazer espanhóis,  romance de Valter Hugo Mãe, que narra a história de Antônio Jorge da Silva, um barbeiro de 84 anos que depois de perder a mulher passa a viver num asilo. Nesse lugar o narrador conhece o personagem Esteves, que diz ser o “Esteves” que habita os versos do poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa, a quem verdadeiramente conheceu no suposto estabelecimento. É o “Esteves sem metafísica”. Além desta referência, vale dizer que me emocionei diversas vezes nesta leitura, que é essencialmente sobre a velhice.

O Edu, sortudo, teve uma conversa mais íntima com o poeta. Para ler a íntegra do poema Tabacaria, clique AQUI.

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (do poema A Tabacaria)

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