Cartas de Baires: Matando um leão por dia

Os jornais argentinos publicaram no final de semana as primeiras pesquisas de opinião pública sobre a expropriação, por parte do governo argentino, de 51% das ações da YPF que estavam nas mãos da espanhola Repsol.

Levantamento feito pela Poliarquia Consultores para o jornal opositor La Nación  mostra que 62% dos argentinos apóiam a medida. “Existe um apoio majoritário, mas também a consciência da opinião pública sobre as razões da crise energética e as conseqüências que esta medida pode ter para a imagem do país”, disse Sergio Berensztein, diretor da empresa.

No Página12, mais alinhado ao governo, pesquisa feita pelo Centro Estudos de Opinião Pública (CEOP) mostra que os números chegam a 74% de aprovação. Igualmente, 67,1% dos leitores apontaram conhecer os motivos da expropriação. Citaram a falta de investimentos por parte dos espanhóis e a necessidade de tirar da mão de estrangeiros o controle de recursos naturais estratégicos.

A imagem da presidente Cristina Kirchner também melhorou – passando dos 60% de aprovação – e seus seguidores em twitter bateram a casa de 1 milhão.

A prova de fogo será amanhã, quando o Senado discutirá o projeto de lei que declara de interesse público a exploração de petróleo. O debate deve entrar noite adentro.

O governo espera contar não apenas com a bancada aliada, mas também com boa parte da oposição. Fala-se em 65 votos a favor, de um total de 72 senadores. Na Câmara, a expectativa é chegar a 80% de apoio. Até o ex-presidente Carlos Menem, que privatizou a companhia, mudou de lado.

Um bom artigo sobre o tema foi publicado ontem na Folha de São Paulo pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Fazenda de José Sarney e ministro da Administração e também de Ciência e Tecnologia durante a gestão de Fernando Henrique, para citar uma fonte menos suspeita de “cristinismo”.

Sob o título A Argentina tem razão, questiona se “o desenvolvimento da Argentina depende dos capitais internacionais, ou se são os donos desses capitais que não se conformam quando um país defende seus interesses”.

O ministro das Relações Exteriores da Espanha disse – referindo-se à Argentina – que quando um regime está em dificuldade, sempre busca um inimigo no exterior. Mas esta frase é, em realidade, um auto-retrato de seu próprio país, onde um regime ultraconservador acaba de fazer um brutal ajuste em educação e saúde, a economia está à deriva, o sistema bancário ao borde do colapso e o desemprego altíssimo.

Para completar, tem uma família real atolada em escândalos de corrupção, matança de elefantes, amantes alemãs e tiros no pé. Parece lógico que abrace a bandeira de Repsol como causa nacional, “pateando la pelota afuera”, como dizem aqui na Argentina.

A culpa do próximo colapso da Espanha seria de Cristina, e não das políticas desastrosas do PSOE, antes, do PP agora, somadas às pressões de Merkel, do FMI e dos bancos.

Texto original, no Noblat, AQUI.

Sugiro a leitura do ótimo artigo POR QUE BUENOS AIRES ENLOUQUECE A MìDIA, publicado no The Guardian por Mark Weisbrot. Ele  é co-diretor of the Centro para Pesquisa Econômica e Política (CEPR), em Washington. Também é co-autor de Ao Sul da Fronteira, documentário de Oliver Stone. Em 28 de março, a Folha de S.Paulo, que reproduzia a cada duas semanas alguns de seus textos, interrompeu a publicação, sem oferecer motivos aos leitores.

Para quem não acompanhou a história dos leões, deixo o vídeo abaixo. Impressionante.

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