Cartas de Baires: Lixo, vergonha portenha

Cartão postal diário

Os turistas que se hospedam em Recoleta e Palermo, bairros que recebem mais atenção por parte do governo de Buenos Aires, talvez não reparem tanto. Mas basta sair destas regiões para constatar que a cidade fica tomada pelo lixo todos os finais de tarde. Plásticos voando, comida espalhada pelo chão. O cenário é desolador.

A cadeia do desastre é a seguinte. Ao anoitecer, os moradores colocam o lixo na frente das suas casas e prédios, sem respeitar o horário de coleta e sem fazer a separação entre resíduos secos e orgânicos. Em seguida aparecem os catadores, que abrem todos os sacos em busca de papel e papelão para reciclar. O que não serve fica jogado na calçada. Bem mais tarde passa o caminhão da empresa coletora, mas aí o estrago já está feito.

A capital argentina tem uma excelente lei, chamada Basura Cero (Lixo Zero, em português), aprovada em 2005, que prevê a redução progressiva da quantidade de lixo mandado aos aterros sanitários.

A primeira meta previa uma redução de 30% do total de resíduos produzidos (em comparação com 2004), já em 2010, terminando em 2017, quando o governo portenho não poderia mais (em tese) mandar resíduos recicláveis a nenhum aterro.

Não deu certo. Pior. A produção de lixo aumentou.

Cifras oficiais mostram que a cidade destinou aos aterros 1.847.748 toneladas em 2009, volume que chegou a 2.277.772 milhões em 2011. Ou seja, um aumento de 23%. Estimativas de hoje apontam para uma produção de 6300 toneladas de lixo diárias em Buenos Aires. Segundo o Greenpeace, é a cidade que mais produz lixo na América Latina.

Essa evolução, além de demonstrar o total fracasso da gestão municipal, aponta o descaso dos cidadãos portenhos em solucionar o problema. Que é deles, também.

O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, iniciou nova campanha e promete “conteinizar” a cidade até 2013, quando toda a população será obrigada a separar seus resíduos. Mas sem uma forte campanha de educação ambiental isso não vai dar em nada, porque é preciso que o lixo chegue aos conteineres de forma correta, o que não acontece.

Para completar, Macri e a presidente Cristina Kirchner, que já se engalfinhavam por diversos temas, semana passada começaram a brigar também por este. A Casa Rosada tem feito pressão para que a prefeitura pague cada vez mais caro pelo seu lixo – que na verdade é depositado em outra cidade – ou então que o processe na capital.

Não sei quem tem razão, mas é muito bom que este assunto tenha voltado para a pauta. Senão a gente corre o risco de que os “buenos” aires fiquem só no nome.

E para que a coluna não termine em baixo astral, deem um espiada nesse blog: Fotos Encontradas. É lixo 100% portenho! Há um post específico sobre este projeto AQUI. 

Texto completo no NOBLAT, aqui.

5 Comments

  • Jair Cordeiro disse:

    quando eu fiquei hospedado no centrão em 2007 eu me assustei com o lixo acumulado nas calçadas, principalmente à noite… é uma pena que isso aconteça e não porque os turistas podem achar ruim, mas porque diminui um tanto a qualidade de vida de quem mora aí.

    é preciso muito trabalho e tempo prá pelo menos diminuir esse problema. nesse ponto fico feliz que Curitiba possa servir como bom exemplo (menos pelo aterro sanitário, que ainda segue enrolado…)

    e que legal aquele projeto ali com as fotos encontradas no lixo! 🙂

  • Ih, Gisele… Palermo não fica ileso não. Todo dia saio pra trabalhar cedinho, e vou caminhando 40 minutos pelo bairro. Principalmente nas quadras próximas à Juan B. Justo é uma desgraça… Não sei se ali eles recolhem o lixo cedo, mas às 8h, 8h30 da manhã, ainda está tudo sujo! Acho que os restaurantes têm bastante culpa no cartório, porque essa região é cheia deles e na frente de cada um acaba formando um mini lixão.
    E o que você diz dos cidadãos também é verdade. Ninguém tem muita vontade de separar lixo não. Foi uma briga só até o meu portenho separar o lixo direito sem preguiça. Não sei se no Brasil a gente é muito bombardeado com lance de sucata, reciclagem na escola (pelo menos a minha geração foi, e isso acabou gerando o hábito familiar) – o que eu acho super certo -, mas aqui me parece que não rola nada disso não.

    O lixo é uma das coisas que mais me incomoda na cidade.

    Não sabia dessa lei não. Ótimo post!

    Beijos

  • lecenteno disse:

    Olá!

    Não vi essa cena na semana que passei em Buenos, mas chegando ao AP alugado (em Palermo) pergunto a pessoa que estava faznedo meu check in: Onde esta o cesto do lixo seco? E ele me responde: Não separamos o lixo ainda, apenas os jornais você coloca ao lado da lixeira no 1° andar.

    Um prédio de 31 andares, que conta com todos os mimos do mundo, incluindo um SPA não separar o lixo é de chorar.

    Fiquei super surpresa com isso. Vamos torcer para a realidade mudar logo, tanto no prédio onde eu fiquei como no resto da cidade.

    Um beijo!

  • martha disse:

    HACE UNOS MESES ME INVITARON A PORTO ALEGRE Y CAÇAPAVA.
    ADEMÁS DE QUE PORTO ALEGRE ES UNA MUY LINDA CIUDAD, ME LLAMÓ LA ATENCIÓN LA LIMPIEZA DE LAS CALLES.LAMENTABLEMENTE
    EN BUENOS AIRES, QUE ES MUY LINDA TAMBIÉN HAY MUCHA BASURA.
    EN LAS CALLES. Y MIENTRAS LAS AUTORIDADES DE LA CIUDAD Y NACIONAL SE PELEAN, LA GENTE TAMBIÉN AYUDA. A LA MUGRE GENERAL.

  • Bernardette Amaral disse:

    Além da quantidade de lixo pelas ruas, chama a atenção as calçadas esburacadas e a quantidade de cocô de cachorro nas ruas. è lamentável essa briguinha entre o prefeito e a presidente, mas a população tão politizada de Buenos Aires poderia fazer alguma coisa para minimizar isso.

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