Cartas de Buenos Aires: Não é crime passional. É femicídio

Semana passada o ex-baterista do grupo argentino Callejeros, Eduardo Vásquez, foi condenado a 18 anos de prisão pela morte da companheira Wanda Taddei. Em fevereiro de 2010 ela teve 60% do corpo queimado com álcool e morreu após 11 dias de agonia, aos 29 anos, deixando dois filhos.

Na época, o músico alegou que havia sido um acidente. A Justiça entendeu diferente. As perícias revelaram que as queimaduras indicavam que o álcool foi derramado de cima para baixo, em um ato deliberado de querer provocar um dano.

O fato de Vásquez ser baterista de uma banda conhecida (a mesma envolvida na tragédia de Cromañon, quando morreram 194 pessoas) deu imensa repercussão ao caso. O impacto social foi tremendo. Só que negativo.

A partir desta morte, cresceram significativamente o número de mulheres que morreram queimadas no país: até agora são 51 vítimas. Nos dois anos prévios à morte de Wanda, casos deste tipo se contavam nos dedos. Foram dois em 2008 e seis em 2009 segundo o Observatório de Femicídios da Argentina, coordenado pela Casa del Encuentro.

Depois do ataque, o número de vítimas subiu para 10 em 2010 e para 28 em 2011. Este ano já são 11 mortes registradas, além de 17 mulheres que continuam internadas em estado grave.

Na maioria das vezes elas foram agredidas por seus atuais ou ex-maridos, noivos, namorados.

Em abril, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que agrava para prisão perpétua as condenações em caso de violência de gênero com vínculo. Vasquez teve uma condenação leve, atenuada por “emoção violenta”.

Considera-se que o vínculo é um agravante do homicídio, uma vez que 80% dos crimes são cometidos por conhecidos. As estatísticas não oficiais mostram que a casa – o espaço íntimo – é o cenário escolhido para cometer os assassinatos.

O episódio abriu uma discussão também na mídia sobre como cobrir a violência de gênero. O grupo de170 jornalistas que fazem parte da “Rede por uma comunicação Não Sexista” elaborou um manual com algumas recomendações. Entre elas não falar de crime passional – já que nenhuma paixão justifica a violência- e sim de femicídio.

Femicídio é um neologismo e significa o assassinato de mulheres como resultado extremo da violência de gênero. Ocorre tanto em âmbito privado como público e compreende as mortes de mulheres em mãos de companheiros (ou ex), namorados ou familiares, e também as mortes por agressores sexuais e violadores.

Eu nem sabia da existência dessa palavra. Agora eu sei e me uno ao combate a esse tipo de violência, para que a gente possa – um dia, quem sabe – sair da Idade Média.

 

Acesse o texto no blog Noblat

 

4 Comments

  • jessica disse:

    que bom que te achei Gisele! confesso, não li seu post, mas te achei através do blog do noblat e foi muito bom saber que eu tenho uma colega brasileira e jornalista que tem um blog falando sobre buenos aires. nasci lá e pretendo voltar, mas não sei por onde começar. começo a acompanhar seu blog desde já. um abraço!

  • karatius disse:

    GENIAL” …nenhuma paixão justifica a violência- e sim de femicídio”.
    Infelizmente a Argentina, está padecendo do mal de seus vizinhos, o aumento da violência. Nada, nada justifica o maltrato ou o assassinato de uma pessoa, imagina de um ser que se ama. Há pouco dias em São Paulo, uma mulher matou e esquartejou o marido: “crime passional”?
    Pagina12 de ontem: Javier Otero está siendo juzgado por abuso sexual y homicidio de María Soledad Carlino. Allí se supo que tres meses antes del crimen había sido denunciado por su ex novia. Y once días antes del asesinato había violado, apuñalado y quemado a otra mujer.
    Diariamente os jornais estão noticiando estes crimes. Lamentável.

  • martha disse:

    CRIMEN PASIONAL? EMOCIÓN VIOLENTA? CRIMEN LISO Y LLANO.
    CÓMO SE PUEDE ATENUAR LA PENA, POR EMOCIÓN VIOLENTA?

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