A dívida do Chico com Piazzolla

Em 1974, o músico Astor Piazzolla sofreu um infarto, justo quando estava na Argentina – naquela época ele morava em Paris. Durante sua recuperação em Buenos Aires, recebeu a visita do jornalista brasileiro Eric Nepomuceno.

Na ocasião, Nepomuceno teve o privilégio de escutar uma música nova, que Piazzolla tinha acabado de compôr, e que queria que Chico Buarque pusesse letra. Cassete gravado, Nepomuceno foi o portador da encomenda. Chico achou a composição linda, mas não conseguiu se inspirar.

astor piazzolla

Foto feita na mostra em homenagem a Piazzolla, no CCK

astor piazzolla

Si, maestro, la estamos escuchando en 2018!

Em 1988, Piazzolla fez uma turnê de três semanas pelo Brasil e houve um encontro entre os dois artistas. O argentino fez, então, um arranjo especial para a música e Chico prometeu que, desta vez, a letra saía. Quer dizer, que iria fazer em cinco dias o que não tinha feito em mais de dez anos. Novamente não rolou.

O problema é que Piazzolla ia participar do programa Chico & Caetano, e teve uma crise de fúria quando ficou sabendo que continuava só com a melodia. Pareceu-lhe um descaso. Precisou ser contido por Tom Jobim que, de mestre para mestre, conseguiu apaziguar os ânimos. “Ele vai jogar futebol e deixa a gente sem música”, teria dito Jobim, numa tentativa de acalmá-lo e convencê-lo que o problema não era pessoal, era com todos.

Esta e outras histórias sobre as passagens de Piazzolla pelo Brasil estão na excelente livro Astor Pizzolla – su vida y su musica, biografia escrita por Maria Susana Azzi e Simon Collier.

São muitas.

Outra bom história que conta é a do dia em que Dori e Nana Caymmi o levaram para escutar Milton Nascimento no Teatro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Piazzolla acabou dando um concerto íntimo para a nata dos músicos brasileiros, que se estendeu até às seis da manhã, com Amelita Baltar cantando Balada para um Louco e todo mundo chorando.

O livro menciona, ainda, a vaia que Astor Piazzolla recebeu no Maracanazinho durante o Sexto Festival Internacional da Canção; o dia em que conheceu Vinícius de Moraes; e os bastidores da criação de “Tango Suíte”, obra que compôs para os violonistas brasileiros Sergio e Odair Assad.

Hoje, 4 de julho, a Argentina lembra a morte deste que é, talvez, um dos maiores músicos do século XX. O espaço deste post não é suficiente para explicar a importância de Piazzolla para o tango e para o mundo. Melhor escutá-lo. Ou caminhar por Buenos Aires num dia frio de inverno.

Mas é espaço bastante, sim, para fazer um pedido: pôxa, Chico, faz essa letra!

Leia aqui todos os posts sobre Astor Piazzolla

Breve guia para escutar Piazzolla

3 Comments

  • Juliana Knaip Delôgo disse:

    Gisele, adoro o seu blog! Muito interessante! Você sempre posta coisas culturais, bacanas mesmo! Fui a BA no mês passado e simplesmente não tem como não se apaixonar! Abraços! Juliana

  • Andrea disse:

    Gisele:
    Em 88 eu morava no Rio e tive o privilégio de ir a um concerto do Piazzola…foi inesquecível. No ano passado assisti também ao Néstor na sala Torquato Tasso e fiquei muto consternada com o roubo dos bandoneons que postaste. Tomara que o ladrão tenha sensibilidade e os devolva…

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