Quando vim morar em Buenos Aires, o Edu me apresentou muita literatura argentina que eu não conhecia, como Juan José Saer, Rodolfo Fogwill.
E entre tantos, o poeta maior: Juan Gelman, falecido hoje no México, onde vivia há mais de 25 anos.
Como bem disse o Página 12 de hoje (jornal para o qual escrevia), um homem que tinha a poesia tatuada nos ossos.
Ou “nuestro mejor poeta, el luchador, el militante, el amigo de las causas perdidas, el tanguero, el fumador, el amador”, como lembrou Rep.
Por sorte tive o prazer de ouvi-lo declamar ao vivo, acompanhado do bandoneón de Rodoldo Mederos, no Teatro Cervantes. E me emocionei por ouvir sua respiração no teatro silencioso. Um luxo.
Para quem não o conhece, Gelman é considerado um dos mais importantes poetas contemporâneos da Argentina e da América Latina – Prêmio Cervantes de Literatura.
Nasceu em Buenos Aires em 1930, terceiro filho de imigrantes judeus ucranianos. Frequentou o curso de Química, que abandonou para se dedicar ao jornalismo, à política e à poesia. Foi membro fundador do grupo de Poetas El Pan Duro, integrado por militantes comunistas que propunham uma poesia popular. Em 1967, deixou o Partido Comunista e formou o grupo Nueva Expresíon e a editorial La Rosa Blindada, que difundia livros de esquerda rejeitados pelo comunismo ortodoxo.
No período da ditadura militar na Argentina, e devido a sua militância nos Montoneros (organização da qual se afastou por divergências com a direção), teve que se exilar em diferentes países da Europa e América Latina.
Teve seu filho Marcelo e a nora, Maria Claudia García Irureta de Gelman, que estava grávida, torturados e mortos. Há poucos anos, e somente depois de intensa busca, Gelman conseguiu se reunir com sua neta no Uruguai.
Por favor, não deixem de conhecer o seu trabalho. Se não conhecem nada, comecem por Gotán.
E vasculhem todo seu blog na internet, por favor!!
Si me dieran a elegir, yo elegiría
esta salud de saber que estamos muy enfermos,
esta dicha de andar tan infelices.
Si me dieran a elegir, yo elegiría
esta inocencia de no ser un inocente,
esta pureza en que ando por impuro.Si me dieran a elegir, yo elegiría
este amor con que odio,
esta esperanza que come panes desesperados.Aquí pasa, señores,
que me juego la muerte.
Lindo!