Interessante análise sobre a rivalidade BR x AR no futebol

Super recomendo que escutem esta entrevista feita pela Rádio CBN com Ronaldo Helal, doutor em sociologia pela New York University, professor da Uerj e organizador do livro Copas do Mundo, comunicação e identidade cultural no país do futebol’.

 


livro

Interessante

Abaixo, um trecho de um texto do Ronaldo, que retirei de seu site, COMUNICAÇÃO E ESPORTE.  É longo, mas é todo interessante:

Realizei pesquisa de doutorado na Universidade de Buenos Aires entre os anos 2005 e 2006. A pesquisa tratava justamente de investigar como a imprensa argentina narrava nosso futebol (já que a fundação simbólica deste esporte é muito parecida em ambos os países).

Posso afirmar, com base na análise do material (Copas do Mundo de 1970 a 2002), que, de uma forma geral, a imprensa argentina nos considera os profissionais do “jogo bonito” (quase sempre escrito assim, em português, “jogo”).

Cheguei a levantar a hipótese de que o ideal do que eles chamam de “fútbol criollo” seria o “jogo bonito” do Brasil, principalmente a mitológica seleção brasileira de 1970. Quando passei da análise de material jornalístico para as entrevistas com jornalistas e lhes mostrava minha hipótese baseada na análise do material coletado, eles me diziam que o tal do “fútbol criollo” seria uma mistura do “jogo bonito” com a chamada “garra” argentina (charrua, para alguns).

pele-vs-maradona

Além disso, nem todos os jornalistas que entrevistei acreditavam que Maradona teria sido melhor do Pelé. Esta comparação que surge somente a partir de 2000, virou meio que folclórica para muitos. Ela funciona como um elemento compensador do tipo: se os brasileiros são os profissionais do jogo bonito, quem mais jogou bonito foi Maradona. Pelé foi, inclusive, colunista do jornal Clarín em várias Copas do Mundo. Em 1990, com Maradona já campeão do mundo em 1986, o jornal o anuncia como o melhor da história do futebol.

Com o surgimento do Olé em 1996, a provocação ao Brasil começa a surgir e vai aumentando. Mas, mesmo este jornal, em suas matérias (não em suas edições) demonstra muita admiração pelo nosso futebol. O Olé é um jornal “debochado” mesmo localmente.

Quem deveria responder o Olé seria o Lance!, e não o Globo, por exemplo, como acontece algumas vezes.

No final da minha estadia em Buenos Aires, comecei a perguntar aleatoriamente para vendedores de loja, livrarias, jornaleiros, como eles definiram em uma palavra ou frase o futebol brasileiro. As respostas variavam entre: “com inveja”, “gostaríamos de ter os títulos que vocês têm” e “profissionais do jogo bonito”. Isto tudo respondido a um brasileiro.

A publicidade nacional em Copas do Mundo tem quase sempre o argentino como o nosso “outro”. Isto ainda não aconteceu por lá, ainda que os jornais venham alimentando a rivalidade nos últimos anos.

Em artigo escrito em parceria com Alvaro do Cabo, intitulado “De la magia a la merde: la mirada de la prensa argentina sobre la selección brasileña de fútbol en el Mundial 2006 ”, onde analisamos os jornais argentinos durante a Copa do Mundo de 2006, observamos uma ligeira mudança no “olhar” da imprensa argentina em relação ao nosso futebol.

Seria o começo de uma resposta? Durante minha pesquisa de pós-doutorado havia trabalhado com a frase do antropólogo argentino, Pablo Alabarces, de que os “argentinos odeiam amar os brasileiros”, enquanto os “brasileiros amam odiar os argentinos”.

Neste artigo, observamos que este “amor” se dilui quando a seleção brasileira se exibe de forma distante do que os argentinos consideram como sendo intrínseco a nossa tradição e principalmente em um momento onde, por conta da internet, os argentinos se deram conta de como os brasileiros os provocam e passaram a reagir e a torcer contra.

De fato, os argentinos têm outros rivais, além dos brasileiros: os ingleses, os chilenos e os uruguaios. Muitas vezes transcendendo o universo futebolístico. Nossa implicância com os argentinos é maior e de outra natureza – predomínio de sentimentos de repulsa e ódio (ou “amor de odiar”). Por que reagimos assim? Pode ser que necessitemos mais “deles” para marcar nossa alteridade do que “eles” de “nós”. Esta é uma hipótese plausível que, no entanto, merece uma pesquisa mais detalhada.

De todo modo, creio que vai chegar um momento em que a publicidade argentina vai nos responder. Como reagiremos? Vamos entender que se trata apenas de relações jocosas ou partiremos para um litígio diplomático?

3 Comments

  • MARCELO disse:

    Sou carioca e “futebolero” e moro em BsAs por quase 40 anos. Essa rivalidade sempre existiu e é consequencia de que , mesmo com estilos bem diferentes, ambos paises estao praticamente empatados em todod os enfrentamentos de suas respectivas seleçoes. Ao longo das décadas sempre houve polemica e gozaçao em cada uma das partidas..
    Pessoalmente, sempre me foi impossivel torcer pela Argentina. E, sem dúvida, essa é a mesma atitude da grande maioria dos realmente futeboles, de ambos paises. Parece pouco racional mas é a realidade: o futebol tem um forte componente de paixao.
    A triste realidade do ultimas decada é que principalmente o Brasil entrou em decadencia. O futebol que se joga atualmente, principalmente na Europa, tem um ritmo, velocidade, tecnica y estado físico tao superiores que se pode calificar como um esporte diferente ao que se jogava antes. A brilhante seleçao do Brasil de 1970 hoje em dia nao passaria nas eleiminatorias…
    Espero que o 7×1 sirva como sinal de alerta para começarmos um longo e novo periodo que logre melhorar e actualizar o pobre e ultrapassado futebol que se joga hoje em dia no Brasil.

  • Edu disse:

    Sábado: Vai Brasil! Domingo: Vamos Argentina! Me sale naturalmente…

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