Zuzu Angel: moda e ditadura no Brasil

Zuzu Angel Vestido Luto

Vestido faz parte da coleção Luto

Há anos ouço falar da coleção feita pela estilista Zuzu Angel em Nova Iorque, em 1971, em protesto à ditadura militar no Brasil. Mas nada me preparou para o vestido preto com um cinto com 100 crucifixos, exibido numa sala totalmente negra.

É a peça mais impactante da mostra Ocupação Zuzu, que está até o dia 2 de novembro no Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Com curadoria de Hildegard Angel – filha mais nova da estilista –  é a primeira exposição que vejo a mesclar estes dois temas tão díspares.

Quem foi Zuzu Angel

Zuzu Angel foi a nossa “madre da Plaza de Mayo”, uma estilista de sucesso, original e inovadora, que deu uma guinada na carreira quando o filho foi morto pela ditadura militar.

Na moda, foi uma das primeiras a usar rendas brasileiras e chita em seus vestidos, além de referências nacionais, como Maria Bonita e Lampião, e ainda pedras, fragmentos de bambu, madeira e conchas.

No auge da Alta-Costura, na década de 60, a estilista não só criava modelos personalizados para artistas e para a sociedade como a atriz Joan Crawford, Kim Novak e Liza Mineli como começava a elaborar modelos de vestidos repetidos, dando a ideia do que hoje chamamos do pret-à-porter.

zuzu angel branco

O famoso vestido branco com referências militares

No auge do sucesso de Zuzu e de sua projeção internacional, seu filho Stuart é preso e morto pela ditadura militar e dado como desaparecido político.  Em 1971, a estilista realiza, em Nova York, um desfile de protesto e a partir de então o luto passa a ser seu hábito (foto).

Roupa preta, véu, crucifixos, o cinto, o anjo.

Um dos destaques desta coleção é também um vestido branco, bordado com motivos que de longe parecem inocentes e de perto são referências militares.

A mostra

Produzida pelo Itaú Cultural, em São Paulo, onde foi vista por 45 mil pessoas em quatro semanas, a exposição que está no Rio tem curadoria do Instituto que leva o nome da estilista, de Hildegard Angel, filha mais velha de Zuz, e de Valdy Lopes.

São 400 peças, com preciosidades que vão desde fotos de família em Curvelo, Minas Gerais, onde Zuleika Angel Jones nasceu em 1921, até o bilhete manuscrito, de 23 de abril de 1975, em que acusava os mesmos assassinos de seu filho caso viesse a aparecer morta “por acidente, assalto ou qualquer outro meio”.

Como aconteceria, de fato, no ano seguinte, quando foi morta num acidente de carro forjado pelos órgãos da repressão, na saída do Túnel Dois Irmãos, que hoje leva seu nome.

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Zuzu serviu de inspiração para a música Angélica, feita por Chico Buarque, e para o filme que leva seu nome, dirigido por Sérgio Resende,  e que vocês podem ver na íntegra abaixo.

 

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