A Biblioteca Nacional de Buenos Aires é um espaço pouco visitado pelos turistas. Uma injustiça.
Além de estar em uma região lindíssima, no coração da Recoleta, e de ter uma história interessante – foi dirigida pelo escritor Jorge Luis Borges durante 18 anos e construída onde um dia foi a residência do presidente Juan Domingo Perón e de sua esposa Evita -, possui um acervo de cair o queixo.
São mais de 2 milhões de volumes, entre livros, publicações e manuscritos históricos armazenados em seus imensos porões.
Entre eles, uma primeira edição de Don Quixote, a coleção literária pessoal do general Belgrano, uma Bíblia de 1445, mais de 300 mil partituras de musica e uma gigante sala de mapas antigos.
Esta é a terceira sede da Biblioteca, que desde sua fundação, em 1810, funcionou na Mansão das Luzes e depois na rua México.
O prédio atual, de sete andares (sendo três subsolos) é bem diferente dos que se encontra no restante da cidade. Uma laje de concreto em forma de T, em um estilo chamado “brutalista”, de autoria dos arquitetos Clorindo Testa, Alicia D. Cazzanica e Francisco Bullrich. Mas isso é o de menos. Motivos para visitá-la não faltam!
Tour pela Biblioteca Nacional
Minha sugestão é que se comece o passeio pelo sexto andar, para ver a vista da cidade e ter visão panorâmica da linda sala de leitura, que fica no quinto.
Este espaço possui oito terminais de consulta, nos quais a gente pode navegar pelos catálogos e pedir material de consulta, a ser usado no espaço comum e livre. Também pode ser acessado de casa, clicando na opção visitante.
Qualquer pessoa pode se cadastrar e usar a biblioteca. Os que possuem credencial de “investigador” têm acesso a outra sala, mais linda!
Depois, o negócio é ir descendo até o térreo. O terceiro andar guarda o Arquivo de Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico e a Fototeca, com mais de 10 mil imagens e que pode ser consultado online, de casa. Vale a pena buscar as fotos antigas de Buenos Aires. Há ainda uma sala de partituras e uma hemeroteca, além de um espaço para os livros raros, e o melhor: uma sala dedicada ao material de Direitos Humanos.
Além desse espaço fixo, há sempre mostras temporárias, como a de agora, sobre Índio Solari. A exposiçõ está bacana, mas preferi a de Luca Prodan, no Museo de Lengua, que fica do ladinho.
Confiram a agenda, que sempre tem coisas legais acontecendo, como as Lecturas de Rock, todas sextas, às 21h, na Explanada.
Por fim, a Biblioteca Nacional conta ainda com uma sala de leitura para não videntes, inaugurada em 1993.
Detalhe: além de Borges, a Biblioteca Nacional teve entre seus diretores o historiador Paul Groussac e o escritor José Mármol. Os três ficaram cegos durante seus mandatos!
[box type=notice] Aproveitem para ver as fotos das biliotecas mais lindas da América Latina, por Daniel Kiblisky. É dele a foto em destaque no post. [/box]
Biblioteca Nacional – Agüero 2502. De segunda a sexta das 9h às 21h e sábados e domingos das 12h às 19h.
POEMA DE LOS DONES
Poema de los Dones /Jorge Luis Borges, director de la Biblioteca Nacional, ya ciego.
Nadie rebaje a lágrima o reproche
Esta declaración de la maestría
De Dios, que con magnífica ironía
Me dio a la vez los libros y la noche.
De esta ciudad de libros hizo dueños
A unos ojos sin luz, que sólo pueden
Leer en las bibliotecas de los sueños
Los insensatos párrafos que ceden
Las albas a su afán. En vano el día
Les prodiga sus libros infinitos,
Arduos como los arduos manuscritos
Que perecieron en Alejandría.
De hambre y de sed (narra una historia griega)
Muere un rey entre fuentes y jardines;
Yo fatigo sin rumbo los confines
De esa alta y honda biblioteca ciega.
Enciclopedias, atlas, el Oriente
Y el Occidente, siglos, dinastías,
Símbolos, cosmos y cosmogonías
Brindan los muros, pero inútilmente.
Lento en mi sombra, la penumbra hueca
Exploro con el báculo indeciso,
Yo, que me figuraba el Paraíso
Bajo la especie de una biblioteca.
Algo, que ciertamente no se nombra
Con la palabra azar, rige estas cosas;
Otro ya recibió en otras borrosas
Tardes los muchos libros y la sombra.
Al errar por las lentas galerías
Suelo sentir con vago horror sagrado
Que soy el otro, el muerto, que habrá dado
Los mismos pasos en los mismos días.
¿Cuál de los dos escribe este poema
De un yo plural y de una sola sombra?
¿Qué importa la palabra que me nombra
si es indiviso y uno el anatema?
Groussac o Borges, miro este querido
Mundo que se deforma y que se apaga
En una pálida ceniza vaga
Que se parece al sueño y al olvido.
Pena que fecha em janeiro, já tentei visitar duas vezes…