Te cuida. Quem nunca ouviu essa frase antes?

sophie calle1

107 interpretações

Quem já levou um fora, sabe. Não tem nada pior do que aquele “te cuida” do final. Mas quem tem talento, transforma isso em arte.

Foi o que fez a artista francesa Sophie Calle, com a exposição Cuídese mucho, que está no Centro Cultural Nestor Kirchner. Uma gênia!

Essa mesma mostra já esteve em São Paulo e em Salvador, em 2009, mas continua super atual.

Em português, a obra levou o nome de Cuide de Você, mas eu prefiro a minha tradução adaptada: Te cuida.

A história é a seguinte: a ideia surgiu quando ela recebeu uma carta do namorado, pondo fim na relação. O texto – muito bem escrito e educado – terminava com “Cuídese mucho”.

O que ela fez? Pediu a 107 mulheres que interpretassem este texto a partir da profissão de cada uma. Que la analizaran, la bailaran, la cantaran. Que la respondieran por mí. Era una forma de darme tiempo para cortar. Una manera de cuidarme”.

Jornalistas, psicólogas, clowns, atrizes, filósofas, bailarinas, cantoras líricas. Todas atenderam ao apelo. Estas interpretações – que vão de cruéis a complacentes – viraram uma instalação. Dezenas de vídeos nos propõem, também, a pensar qual seria a nossa.

Leia a carta e faça a sua!

 

sophie call videos

Como transformar “um fora” em arte

 

[headline]A carta[/headline]

Sophie,

Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.

Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência . Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”, não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.

Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”, se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você.

Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”. E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Jamais menti para você e não é agora que vou começar.

Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,?) e compreensível (obviamente?); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.

Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.

Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.

Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.

Cuide de você.

X

[headline]A opinião dos homens [/headline]

Em Buenos Aires, pela primeira vez, também homens forma convidados por Sophie Calle a participar.

Edgardo Cozarinsky (escritor e cineasta), Marcelo Delgado (compositor), Emilio García Wehbi (artista visual e diretor de teatro), Gustavo Lesgart (bailarino e coreógrafo), Hugo Mujica (poeta), Marcelo Percia (psicoanalista e professor) e Diego Velázquez (ator) foram os encarregados a dissecar cada palavra escrita pelo ex de Calle e, de certo modo, mostram a complexidade das relaciones humanas.

Lugar: Centro Cultural Nestor Kirchner – 2 andar, Salão de Honra. De quinta a domingo, das 14h às 22h.  Até o dia 23 de agosto.

 

1 Comment

  • Eduardo Baró disse:

    Una enorme muestra que no deja interpretación, indagación, insistencia, recurso, golpe bajo, sin usar. Sophie recibe un email de despedida demasiado cortés y bien escrito, que termina con un insoportable “Cuidate mucho”. Eso dispara en Sophie una performance prodigiosa: cientos de mujeres agudas o desmesuradas, graciosas o patéticas, crueles o complacientes, analizan y desmenuzan la carta, que se entrega en copia a los visitantes para que haga lo mismo. Decenas de pantallas de televisión repiten las interpretaciones y en otras salas se exponen análisis y desmenuzamientos implacables, vertiginosos, prodigiosos.En Buenos Aires invitó a varios hombres a hacer lo mismo. el resultado de todo marea y deslumbra.
    El Centro Cultural Kirchner también.
    Vamos? El edificio es desmlumbrante y enorme : 116.000 m2 destinados a la cultura, gratis.

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