Brasil e Argentina: o que o nosso dinheiro tem em comum?

linha do tempo dinheiro BR AR

O designer Joaquim Redig fala sobre um tema que em geral não se compara entre Brasil e Argentina: o dinheiro.

 

linha do tempo dinheiro BR AR

Cliquem na imagem para vê-la maior. Tá super essa comparação!

 

Gisele Teixeira,
especial para o Clarín em Português

A circulação, em breve, de uma nota de 100 pesos em homenagem às Mães e Avós da Praça de Maio (‘Madres’ e Abuelas’ de la Plaza de Mayo) , junto com a recente emissão de uma nota de 50 pesos com a imagem das Ilhas Malvinas, significa uma nova etapa no desenho monetário argentino. A conclusão é do designer brasileiro Joaquim Redig, que está em Buenos Aires para estudar um tema que em geral não se compara entre os países vizinhos: o dinheiro.

O papel moeda carrega uma simbologia muito forte, a identidade de uma nação, mas pouco se pensa sobre ele”, diz o especialista.

Ele adianta que são muitas as diferenças na história e na evolução do papel moeda nas duas nações, mas em resumo “a Argentina tem muito mais tradição, enquanto o Brasil é mais criativo”.

Redig destaca que as novas emissões do Peso – tanto os bilhetes de Evita e das Malvinas, em circulação, como o das Mães e Avós da Praça de Maio, ainda não lançado – refletem a entrada do  designer gráfico suíço Roger Pfund, um dos maiores renovadores do design mundial de bilhetes monetários, consultor da Casa de Moneda em ambos projetos.

Emotividade

O brasileiro acrescenta que há, ainda, uma renovação temática nessas duas notas, com a entrada de assuntos que tocam mais fundo na alma nacional, além de uma renovação gráfica, com linhas mais dinâmicas, heterogêneas e ricas em formas e cores, em comparação com as demais em vigor. “A nota das Malvinas explora as cores nacionais, azul e branco, e a de Evita o vermelho, coerente com a emotividade que provoca o rastro desta personagem na história argentina”.

O trabalho de Redig faz parte da tese de doutorado em Design na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), do Rio de Janeiro, que tem como tema O Papel Moeda brasileiro e a intervenção de Aloísio Magalhães – O design por trás do objeto.

Segundo o pesquisador, o desenvolvimento profissional e acadêmico do design na Argentina se deu com alguns anos de antecedência e maior inserção no contexto  industrial, só que esta experiência ainda não chegou ao papel moeda. “O Brasil começou mais tarde, mas tem design forte presente nesta área desde 1970”, compara.

Os exemplos estão nas notas.

“Ao longo do século XX, o dinheiro impresso brasileiro teve muitas inspirações. De governantes e heróis (como o revolucionário Tiradentes), passando por intelectuais e artistas (como o poeta Carlos Drummond de Andrade e o músico Heitor Vila Lobos), até chegar a figuras alegóricas e a exemplares da nossa fauna, como agora. A Argentina, ao contrário nunca teve figuras da cultura em seu papel moeda”.

 

billete madres

Télam 26/03/2015
Buenos Aires, Anverso y reverso del billete de cien pesos que homenajea a las Madres de Plaza de Mayo y su lucha por la Memoria, la verdad y la justicia.
Foto: Ministerio de Economía/ema

História

Uma leve mudança no design começa a aparecer com a impressão da nova nota de 50 pesos argentinos, que faz uma homenagem às Ilhas Malvinas, e às ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, e da nota de 100 pesos que deve sair em breve, dedicada às  Madres e Avós da Praça de Maio.

“A ideia é que o dinheiro argentino conte uma história, que reflita uma parte do passado, mas também o presente e o futuro”, destacou a presidente da Casa de Moneda, Katya Daura, durante o lançamento da nota das Malvinas.

Diferenças históricas

A primeira diferença entre os dois países é histórica. Desde sua primeira moeda nacional, em 1881, a Argentina teve seu papel moeda próprio, impresso no país e com design local. O Brasil, por sua vez, sempre importou este objeto – e seu design – até 1970.

“Ou seja, por mais de 150 anos, o Brasil transferiu para estrangeiros a responsabilidade na definição desse elemento tão forte de identidade”, destaca Redig. Nesta época, o país comprava dinheiro da empresa estadunidense American Banknote Co. e da inglesa Thomas de La Rue – e compartilhava com outros países o modelo do dólar.

O papel moeda brasileiro só passa a ter um desenho próprio em 1970, com a entrada de Aloisio Magalhães no processo. Um dos pioneiros do design brasileiro, Magalhães foi presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan – e Secretário da Cultura do Ministério da Educação e Cultura entre 1979 e 1982.

Ele defendia que o papel moeda deveria não só refletir a identidade brasileira, como também ser fabricado no país, de modo a conferir autonomia num setor política e economicamente estratégico para qualquer nação. Na Argentina, essa mesma visão já era defendida 100 anos antes, pelo industrialista Eduardo Castilla e, mais tarde, pelo presidente Juan Domingo Perón.

“Ou seja, a Argentina mal existia como o país e já tinha visionários preocupados com sua autonomia produtiva”, diz Redig, acrescentando que hoje há países que nem mais têm moeda, como o Equador. “Dolarizado, o país não desenha e não fabrica suas notas”.

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[headline]DIFERENÇAS ENTRE BRASIL E ARGENTINA[/headline]

•    A linha brasileira é abruptamente cortada em duas partes (em 1970) – a antiga e a moderna, a importada e a nacional – antes e depois da entrada do design no setor. Já a linha argentina é contínua, modernizando-se gradativamente, e às vezes até voltando atrás (como em 1983), e depois evoluindo de novo.

•    No Brasil, todas as mudanças são abruptas: – as três séries de Magalhães (1970, 72 e 78, especialmente a última, com seu layout espelhado); – depois, a série seguinte da inflação galopante (Cruzado, Cruzado Novo, etc) e, por fim, o Real, com seus dois desenhos também muito diferenciados (embora tematicamente idênticos). O primeiro, de 1994, de caráter mais informal, quando a moeda foi lançada, e o segundo, de 2013, mais sério.

•    As mudanças argentinas são bem mais suaves, só sendo brusca no lançamento do Austral, em 1985 (quando, pela primeira vez, a moeda argentina abandona seu nome tradicional, logo depois recuperado), e, em menor intensidade, um pouco antes, na última emissão do Peso Ley (também semelhante aos projetos iniciais de Magalhães, com suas faixas cruzadas – a 1ª Série, e a nota de 500).

•    A continuidade visual também é acentuada na Linha argentina pela repetição, durante décadas, da efígie do General San Martin, o grande herói nacional. Já o dinheiro impresso brasileiro teve, ao longo do século XX, de governantes e heróis (como o revolucionário Tiradentes), a intelectuais e artistas (como o poeta Carlos Drummond de Andrade e o músico Heitor Vila Lobos), e hoje, a figuras alegóricas e a exemplares da fauna.

•    No campo da comunicação verbal, há ainda outra tradição monetária argentina a lembrar: mesmo variando o padrão monetário, a moeda nacional sempre teve o nome “Peso” (Peso Moneda Nacional, Peso Ley, Peso Argentino, Peso Convertible – fora o curto período do Austral). No Brasil, não há essa tradição. O Brasil teve o Cruzeiro; mas também os  Mil Réis e o Real, para citar alguns.

 

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