Aquí nos vemos. América Latina em 350 fotos

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Aquí nos vemos traz 350 imagens de 68 profissionais da Argentina, México, Brasil, Perú, Paraguay, Uruguay, Cuba, Colombia e Chile, com a curadoria de três feras: Juan Travnik, Adriana Lestido e Gabriel Díaz.

 

Além da Ballena Azul, a super sala de concertos do Centro Cultural Kirchner, um outro lugar deste espaço acaba de entrar para minha lista de imperdíveis: La Gran Lámpara.  Vendo de fora, é como um coração de vidro suspenso em meio ao prédio e foi batizado com este nome por lembrar um lustre gigante. Por dentro, são duas salas interligadas por escadas internas, projetadas para receber grandes exposições.

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Foto Divulgação CCK

 

É na La Gran Lámpara que está Aquí nos vemos – uma mostra que apresenta um panorama da fotografia contemporânea na América Latina. Já na entrada, um texto da jornalista Mariana Enríquez nos põe a reflexionar. Ela afirma que quando vemos o que os fotógrafos escolheram, ver é inevitável pensar que somos muito diferentes. “É difícil, inclusive, dizer somos”. No entanto, todas estas fotos foram feitas nos últimos 15 anos e são uma captura do presente. Os núcleos da exposição são o amor, a família, a memória e os direitos humanos.

“Estas imagens, tão diversas, abraçam a diferença e convivem…o que somos, o que queremos, o que conhecemos e o que amamos. Que é, em cada caso, gloriosa e felizmente diferente”

Para este mês, estão programados bate-papos sobre o diálogo e o intercâmbio entre os países com especialistas convidados e conversas informais dos fotógrafos com o público. Dia 16 de outubro, a partir das 15h,  haverá uma jornada de projeções e conversas com os fotógrafos Paz Errázuriz, do Chile; José Diniz, Iata Cannabrava e Christian Cravo, do Brasil; Mauricio Palos, do México, e ainda Jorge Panchoaga de Colombia e Raúl Cañibano de Cuba.

Enquanto isso, façam a visita guiada!

“Aquí nos vemos” faz alusão ao livro homônimo do escritor inglê John Berger, que traça um itinerário por diferentes cidades européias (aqui o itinerário é pela América Latina), por meio de um punhado de contos que falam dos mortos, mas também da vida – como nessa mostra.

Cliquem aqui para ver as 10 melhores fotos escolhidas por alguns profissionais, a pedido do La Nación.

 

Uma das séries que mais gostei se chama Moisés, da fotógrafa Mariela Sancari. Super forte. Deixo vocês com o texto original da mostra e duas fotos. Detalhe: para fazer este trabalho, ela colocou um anúncio num jornal, buscando homens que lembrassem a fisionomia do pai. Encontrava-se com eles na praça de Parque Patrícios e os fotografava com as duas únicas peças de roupa de seu pai, que tinha guardado como lembrança. Leiam o texto abaixo que vocês vão entender tudinho.

“La fotografía es nuestro exorcismo”. Jean Baudrillard, La transparence du mal

 

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La disciplina de la tanatología considera que no ver el cuerpo muerto de nuestros seres queridos nos impide aceptar su muerte. Contemplar el cuerpo inerte de la persona fallecida nos ayuda a superar una de las etapas más complejas del duelo: la negación. Mi hermana gemela y yo no pudimos ver el cuerpo de nuestro padre. Nunca supe si porque había sido un suicidio o por dogmas de la religión judía o ambas.

No haberlo visto nos ha hecho dudar de su muerte de muchas maneras.  La sensación de que todo fue una pesadilla y la fantasía que ambas tenemos de que nos lo vamos a encontrar caminando en la calle o sentado en un café nos ha acompañado todos estos años.

Una vez leí que la función primordial de la ficción es favorecer la evolución, forzándonos a ser conscientes y convertirnos por un momento en la otredad a nuestro alrededor. Yo creo que la ficción nos ayuda a “mostrar” la bodega interminable del inconsciente, permitiéndonos representar nuestros deseos y fantasías.

Moisés es una tipología de retratos de hombres de 70 años, la edad que tendría hoy mi padre si estuviera vivo.