Crise na Argentina: o que está acontecendo?

Foto Eduardo Baró

 

Macri =Hambre (Fome).

Este foi um dos cartazes mais vistos na marcha convocada pela Confederación General de los Trabajadores (CGT), ontem, em Buenos Aires. Ou seja, o mês que sobra no bolso, a inflação (a mais elevada em 25 anos, que chegou a 41% no primeiro ano de governo de Maurício Macri) é o problema que mais repercute na população no momento. A economia argentina está em crise, outra vez!

 

AUMENTOS

Alguns dados: depois de aumentos de mais de 400% em tarifas como a do gás (insumo super importante aqui na Argentina, especialmente na indústria e nas casa, no inverno) e de outros reajustes em 2016, como mais de 500% na luz e de 100% no transporte, o ano de 2017 começa com péssimas notícias.

Os combustíveis já aumentaram 8% em 2017 e estão previstos outros 3 reajustes até dezembro. Sobem, ainda: pedágios (120%), telefones celulares (12%), água (300% depois de uma sentença judicial), luz (36%), planos de saúde (6%), IPTU (30%), colégios particulares (30%).

Importante:  o transporte também deve aumentar outra vez, com a passagem de metrô subindo de 7,50 a 10 pesos.

 

NESTE LINK, todas as matérias sobre aumentos publicados por La Nación, para não usar dados de jornais anti-governo, como o Página 12.

Por outro lado, o protesto gigante de professores na última segunda-feira é porque Macri se nega a negociar as paritárias nacionais com o segmento, conforme previsto em lei.

REDUÇÃO NO CONSUMO + QUEDA NA PRODUÇÃO + DEMISSÕES

Outro tema quente da economia argentina são as demissões provocadas pela redução no consumo e consequente impacto na queda da produção das indústrias locais, agravadas pelo aumento das importações. 

Os setores com mais problemas são o calçadista (queda de produção de 30% em 2016 se comparado com 2015) e o têxtil, mas também sofrem as fábricas de linha branca de computadores. Produtos chineses estão entrando aos borbotões, muitas vezes via Chile, e a indústria nacional não tem como competir.  Para informações detalhadas sobre aumento das importações, espiem o relatório do Observatorio de Importaciones, de Santa Fé.

Foto Eduardo Baró

Isso só pode dar em demissões, uma história bem conhecida, não somente da Argentina mas também do Brasil. Para usar os dados oficiais: o ministro do Trabalho Jorge Triaca reconheceu que no primeiro semestre de 2016 foram perdidos 110 mil postos de trabalho. Mas foi de lá para cá é que a coisa ficou feia.

Hoje (08 de março), por exemplo, a Sancor, uma das maiores empresas do setor lácteo, anunciou a paralisação de quatro plantas (leia mais no Cronista). Em fevereiro foram anunciadas demissões na empresa química Atanor (200 trabalhadores), na Banghó, de computadores (400 demissões) e suspensão na Volkswagen (600 pessoas) .

No ano passado, segundo dados oficiais, o Produto Interno Bruto (PIB) já tinha encolhido 2,4%. Para este ano, as perspectivas não são boas.

 

 

FALTA DE TRANSPARÊNCIA

Por fim, parece que a população que tinha votado em Maurício Macri com esperança de menos corrupção e mais transparência, também se aborreceu seriamente com as últimas ações do presidente. Entre elas, a tentativa de perdão de dívida de empresa da própria família (leia mais aqui) e um conflito de interesses no caso da Avianca, entre outras. O presidente teve que admitir que “se equivocou” nos dois casos.

 

 

7 Comments

  • Glauce disse:

    Por aqui, as coisas são tão ou mais Temerosas…

  • WANDA MARIA WALENDOWSKY HORTA disse:

    Cara Gisele,

    Como lamento estas péssimas noticias que estão ocorrendo com o povo desse tão querido país.Foi dificil terminar de ler a reportagem,porque é má noticia demais.
    Como é que dirigentes de um país conseguem administrar tão mal.Claro que tambem herdam roubos e desvios de verbas imensas de governos anteriores.Pude observar que também aí tem uma China Town em Belgrano,e a quantidade de produto importado é péssimo para o país.As divisas não permanecem no país,porque são mandadas para fóra e os trabalhadores são mandados para fóra de seus empregos.
    A situação é dificil aí e aqui no Brasil também.Nestes momentos a única atitude que podemos tomar,é fazer o que dizia Sir Winston Churchil:
    ”Se você está atravessando o inferno…não pare.”

    Grande abraço,
    Wanda

  • Maximiliano Guzenski disse:

    Oi, também more em Buenos Aires a cerca de 3 anos.

    Assim, mesmo com esses aumentos, que quando mostrados em percentual são impactantes, em valores absolutos ainda são bem abaixo dos praticados no Brasil, nao? O Metro vai para 10 pesos (que é apenas R$2,00) por exemplo…

    Quando cheguei aqui o metrô era algo como R$0,50… quem consegue manter uma infraestrutura sem dar prejuízo cobrando só isso?

    Se o pais tem 41% de inflação, o mínimo que se espera aumentar é algo próximo a isso. Logo IPTU, telefone e outros serviços que subiram 30% ou menos, não são um aumento real e sim um reajuste inflacionário justo.

    E encima disso, o salário minimo da Argentina é 8mil pesos, o que é +/- R$1600,00. Para comparação o salario minimo do Brasil esta em menos de R$950,00

    Mas concordo que algumas coisas na Argentina estão caras, principalmente compras no mercado, roupas de forma geral e que há uma onda de demissões. Mas discordo que o valor dos serviços estejam excessivos.

    E também o setor de roupas e eletrônicos te dão de 25% a 30% de desconto no pagamento a vista (inclusive no cartão)… até 30%!?!?!?! Se fazem isso é porque o valor anunciado ja estava excessivamente inflacionado, e não é por culpa do governo.

    • Se você morou há três anos aqui, você pegou a parte boa! Te convido a voltar, ganhar em pesos, curtir ” um reajuste inflacionário justo” e viver com 8.000 pesos. Eu, classe média, entro no supermercado, olho a carne e compro o frango. Muita gente já tá com fome, amigo. Abraços.

      • Maximiliano Guzenski disse:

        Oi
        Escrevi mal, Eu “MORO” aqui há 3 anos. Estou em Buenos Aires neste momento.

        8000 pesos realmente nao dá para viver, eu gasto bem mais, mas também acho que nao dá para viver com salario mínimo em lugar nenhum da América Latina…

        E como eu disse, o supermercado está realmente caro, incluindo aí principalmente a carne.

        E também disse que há uma onda de demissões, que é ruim, e obviamente por isso tem gente passando fome. Não é pelo valor da luz, iptu ou passagem de subte.

        Há 3 anos, quando cheguei, era realmente melhor, principalmente quando trocava reais no blue, que agora também não tem mais.

        Uns dos problemas da argentina é que é tudo se resume a Buenos Aires. É visto os valores de Buenos Aires, é visto o desemprego de Buenos Aires… e se esquecem que boa parte do país sempre esteve na m**** independente do ano ou do governo.

        Por exemplo, o famoso subsidio do governo para Luz, gás e passagem de onibus… era apenas em Buenos Aires, o resto do país que nao gera votantes suficientes, que se exploda…. Em 2015, quando o boleto aqui do coletivo era míseros 3 pesos, en Cordoba já era $6.35 a muito tempo.

      • Maximiliano Guzenski disse:

        Para mim, o subsidio foi uma das grandes cagadas. Deve ter sido bom e importante quando foi criado, mas depois se tornou um fardo, por que:

        1º – Era apenas para sua maior zona eleitoral, Buenos Aires
        2º – Era para todo mundo, inclusive turista
        3º – Levou ao porteño a não economizar… é só caminhar, de manhã cedo, e vai ver quase todos os predios lavando a calçada com água, apartamentos com luz acessa e tvs ligadas, lojas fechadas com todas as luzes acessa e provavelmente com o ar também.

        Na Venezuela, o litro da gasolina custa ridículos 20 centavos de real (o frentista ganha mais gorjeta que isso), como resultado as pessoas vão almoçar e deixam o motor do carro ligado!?!?!

        Quando o serviço é muito barato, as pessoas tentem a desperdiçá-lo… algumas coisas precisam doer no bolso para que se aprenda que é necessário usar menos.

        E quando se acaba com algo altamente subsidiado, e ainda faz uma correção de valor, é claro que o aumento percentual vai ser de 400% ou mais. A Venezuela, por exemplo, se colocar o valor da gasolina na mesma da Argentina, sairia nos jornais: “gasolina aumenta 1.850%”

  • Eu fico feliz que você esteja passando por esta crise de uma forma mais amena que eu. Tudo ao mesmo tempo agora pesou bastante aqui em casa. Mas, enfim, eu concordo que falta consciência ambiental na Argentina, como falta também no Brasil, onde as contas são mais caras.

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