O tango no Japão

O tango no Japão guarda uma história de amor de longa data. Por isso quem circula pelo mundo tangueiro não fica surpreso quando algum japonês sai vitorioso em uma competição, como ontem, quando Axel Arakaki, ao lado da argentina Agostina Tarchini, levou para casa o título de Campeão Mundial de Tango 2017 na categoria palco. Não é a primeira vez que o Japão fica chega a uma final. Em 2010 foi ao contrário. Ela era japonesa e ele argentino, Chizuko Kuwamoto e Diego Ortega.

O casal vencedor deste ano dançou La Cumparsita (um tango que completa 100 anos em 2017), mas numa versão do bandoneonista Ryota Komatsu. 

 

O tango no Japão

Os japonses são fascinados pelo tango. De acordo com a Academia de Tango do Japão, há mais de 70 milongas distribuídas entre a capital Tóquio e outras cidades como Osaka, Kobe e Nagoya. E umas 100 associações, clubes, pequenas comunidades e centros culturais onde se escuta e dança tango, e se compartem histórias, tal como acontece em muitos lugares de Buenos Aires.

Os bailarinos portenhos são deuses no país oriental – que se transformou em um dos principais mercados para professores – e os músicos argentinos não deixam o Japão de fora de nenhuma turnê mundial. As academias de dança daqui estão cheias de japoneses. Os campeões do mundo, aliás, ganharam passagens para dois meses de apresentações por lá.

Mundial de Tango 2017 vencedores categoria palco

Agostina Tarchini e Axel Arakaki

Há muitas discussões sobre por que o tango no Japão faz tanto sucesso.  Alguns dizem que o som do bandoneón remete a melodias tristes nipônicas. Outros defendem que o contato que proporciona a dança permite aproximações físicas muito raras nessa cultura.

Creio que o tango fisga os japoneses pela mesma razão que atrai outras nacionalidades: a emoção. “Me sale de aquí adentro”, disse Fuki Aoki, apontando para o coração. Fuki é uma japonesa que cantava ópera. Veio visitar a Argentina por uns dias e passou para o tango, sem escalas.

o tango no japao barão megata

Barão Megata

O ritmo chegou ao país oriental com Tsunayoshi “Tsunami” Megata, filho de um diplomata e neto de um samurai, que viveu em Paris de 1920 a 1926. Na capital francesa, aprendeu a bailar tango – dizem que muito bem – e voltou para casa com a bagagem cheia de discos. Em Tóquio, instalou a primeira academia de baile e publicou o primeiro livro sobre o tema – Um Método para Bailar o Tango Argentino.

Megata foi tão importante para a difusão do tango no Japão que ganhou um presente à altura. Uma música, por supuesto. Em 1981, Luis Alfredo Alposta compôs a letra “A lo Megata: “Y tal vez ahora..alguien, allá en Tokio, elegantemente, baile a lo Megata sin saber quién fue.” O tango foi executado pela primeira vez em 29 de maio d 1982, no 14o de falecimento do barão Megata.

Os limites e as fronteiras são mesmo para as mercadorias.

O tango viaja sem pedir licença.

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2 Comments

  • Joaquim Redig disse:

    Realmente estranha, essa relação entre o tango e o Japão… faz lembrar outra estranha paixão sulamericana dos japoneses: a bossa nova. O que me leva a pensar se haveria alguma relação entre a bossa nova e o tango. A emoção? Mas são emoções muito diferentes, entre si!

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