Agrotóxicos: o tema chega a Berlim

O cineasta Pino Solanas foi ovacionado no Festival de Cinema de Berlim, esta semana, com o documentário Viaje a los Pueblos Fumigados, que denuncia as sequelas – para e população e o meio ambiente – da aposta Argentina pelos agrotóxicos, a soja e os transgênicos.  Foram 3,8 milhões de toneladas de agrotóxicos em 2017, o que coloca o país entre os líderes em consumo no mundo. Os dados são Câmara da Indústria Argentina de Fertilizantes e Agroquímicos (Ciafa). Para 2018, a previsão é chegar a 5 milhões de toneladas.

O documentário causou mal estar também na Alemanha, O diretor do festival, Dieter Kosslick, assumiu um forte compromisso político com o filme de Solanas, especialmente porque, recentemente, o ministro da Alimentação e Agricultura da Alemanha, Christian Schmidt, votou a favor do uso do glifosato por mais cinco anos na União Europeia.

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AGROTÓXICOS NA ARGENTINA

Não são apenas número.

Fabián Tomàsi sofre de “polineuropatia tóxica severa” e sua história é bem conhecida na Argentina. Ele é um exemplo do impacto dos agrotóxicos na saúde humana e um dos porta-vozes da luta contra a utilização destes químicos no país. Em 2006, ele fazia carga e descarga de químicos na empresa Molina & Cia. SRL., em Entre Ríos, e era o responsável por carregar os aviões que fumigavam a região. Sem proteção, obviamente. Hoje tem politraumatismos de todo o tipo. Veja entrevista completa com ele no You Tube. 

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A primeira vez que tomei contato com a história de Fabián foi na mostra “O Custo Humano dos Agrotóxicos”, de Pablo Piovano. A obra mostrava o resultado de cinco viagens que o jornalista de Página 12  fez a regiões agrícolas da Argentina para retratar vítimas de contaminação por venenos agrícolas. São imagens de pessoas com manchas e caroços na pele, mãos, braços e pernas deformadas, crianças com problemas resultantes de malformações fetais.  Fotos impactantes.

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Fotos Pablo Pivano

No documentário “Viaje a los Pueblos Fumigados”, Solanas mostra as consequências do uso de agrotóxicos em sete províncias argentinas: Buenos Aires, Entre Ríos, Santa Fe, Córdoba, Salta, Chaco e Misiones. E relata como a alta rentabilidade do agronegócio acontece a um custo muito alto, que envolve desmatamento, monocultivo, destruição do solo, inundações e êxodo rural. Isso sem falar na multiplicação de casos de câncer e mal formações.

Entre as vítimas estão os indígenas wichis, do norte de Salta, que ficaram sem sustento com a redução dos bosques nativos da região, área agora dedicada ao cultivo de soja, mas há também relatos das professoras de escolas rurais, que denunciam a intoxicação de alunos com glifosato, e das próprias mães das crianças afetadas.

O documentário traz ainda entrevistas com o diretor do Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (INTA) Jorge Rulli, que há décadas vem denunciando este tema, e do falecido investigador del CONICET, Andrés Carrasco, que conseguiu demonstrar, pela primeira vez, a relação da incidência do glifosato na má formação de embriões. No caso específico do “glifosato”, enquanto nos Estados Unidos seu uso é de 0,42 litros por habitante – e na França está proibido – na Argentina se usa 4,3 litros dos agroquímico por pessoa. 

A contaminação com herbicidas e inseticidas também foi abordada no excelente livro “Envenenados”, de Patricio Eleisegui.

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