Tangos médicos

tangos médicos

O Anatomista, Os Dopados, A Injeção, O Bisturi, Clínicas. Pasmem! Há pelo menos 135 títulos de tango (extraídas de uma coleção de partituras) dedicados a médicos, doenças, remédios e procedimentos. O levantamento faz parte do livro El Lunfardo y el tango en la medicina, de Luis Alposta (Editorial Torres Agüero Editor. 1986).

Diz a lenda que tudo começou com as festas que as faculdades faziam para o Dia da Primavera. De todas, a mais famosa era a dos estudantes de medicina: um baile, o Baile do Internado, no qual o tango era o protagonista. O fuzuê era organizado pelos estudantes mais avançados do curso, os internados, o que no Brasil talvez pudesse ser comparado com os residentes.

tangos médicos

O primeiro Baile del Internado foi realizado no Palais de Glace, el 21 de setembro de 1914. A popularidade desse evento inspirou outros compositores a criarem tangos dedicados aos profissionais da medicina, os tangos médicos. Entre as obras conhecidas estão El Anatomista, El Cirujano, Rawson , Matasano, El Internado, El 606.  Muitas delas foram dedicadas a médicos conhecidos da cidade na época. “Rawson”, de Eduardo Arolas, por exemplo, foi feito em homenagem aos médicos Pedro Sauré, Juan Carlos Aramburu e Cleto Santa Coloma. Uma curiosidade é que as partituras sempre tinham desenhos engraçados na capa.

 

Tangos Médicos – os temas

Além dos muitos tangos dedicados a profissionais, chama a atenção os tangos feitos para “doenças”.

O “El 606, tango medicinal para la curación de todo mal”, por exemplo, de Reinaldo Sales de Araujo, era dedicado ao “salvarsán”, primeiro composto para o tratamento da sífilis, muito comum nas primeiras décadas do século XX.

A tuberculose foi outro tema recorrente no tango. Pelo menos dois tangos estão associados a esta doença: “El bacilo”, tango-criollo para piano, composto por Alberico Spatola, dedicado a seu amigo Dr. José Infantozzi, e publicado em 1917 e “TBC”, composto por Edgardo Donato em 1928, com letra de Víctor Soliño e Roberto Fontaina.

Tangos psiquiátricos: “Tango histérico, algo reumático”, composto por Miguel Tornquist (1910), “El frenopático“, de Osvaldo Pugliese, dedicado à sua tia Concepción Pugliese “como prova de afeto”; “El loco“, composto por José María Férriz, e “Balada por um louco” (Balada para un loco) de Astor Piazzolla, letra de Horacio Ferrer; além de “Loca!”, para citar alguns.

Além de um e meus preferidos, “Loca”, de Manuel Jovés, com letra de Antonio Viérgol e dedicado à “simpática e inteligente” Luisa Salas.

Tangos farmacológicos:  “El opio”, de Francisco Canaro, dedicado a seu amigo o escrivão e contador público Manuel Couto; “La cocaína”, composta por Juan Viladomat em 1926, “Los dopados”, de Juan Carlos Cobián, dedicado a Julio de Caro e Pedro Maffia; “Paraíso Artificial”, por Rafael Tuegols. “Matasano” (tango-milonga para piano) de Francisco Canaro, dedicado aos internos do Hospital Durand e publicado em 1914 por Juan Balerio, se referia à arvore sapoteira branca Casimiroa edulis, cuja infusão de folhas e frutos era conhecida pelos astecas pela sonolência que produziu (devido ao seu conteúdo de substâncias histaminérgicas).

Por fim estão os tangos anatômicos (“El anatomista”, de Vicente Greco, e “Anatomia”, de Eduardo Arolas), e os tangos com temas de medicina interna, como “Clínicas”, de Alberto López Buchardo, dedicadas aos residentes do Hospital de Clínicas; “La inyección” e “Cloroformo”, tango-milongas compostas por José Artusi e Udelino Toranzo, respectivamente, “El termómetro”, de José Martínez em 1917, “El Dengue”,, tango-milonga por Miguel Alfieri, “El microbio”, de Carlos Pibernat, tango-criollo dedicado ao Dr. Luis Alvarez, entre outros.

Enfim, para todos os males: dançar!

* Fontes desta matéria: Hekton Internations – A Journal of Medical Humanities  e site Todo Tango.

 

 Escute alguns dos tangos médicos mais famosos

Matasano
El opio
TBC
Clínicas
Tango histérico
El internado
Los dopados
Paraíso artificial
Balada para un loco

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