Tango no Correio do Povo

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O cenário do tango no Brasil e a proposta do Aquí me Quedo Experiências Tangueiras ganharam destaque no fim de semana no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. O texto saiu na coluna Diálogos, de Eugênio Bortolon, espaço de entrevistas com personagens de diversas áreas. Reproduzo o texto abaixo.

 

 

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Por

Eugênio Bortolon
 

Como foi parar aí depois de uma carreira no jornalismo?

Em 2008 decidi fazer um ano sabático para aprender espanhol e realizar o sonho de morar em Buenos Aires. Chegando aqui, me apaixonei pela cidade e pelo tango e, inexplicavelmente, me senti em casa como nunca antes. Em seguida conheci meu companheiro, um argentino, adotamos dois gatos, compramos uma casa e lá se vão dez anos. Profissionalmente, aos poucos fui migrando do jornalismo para o turismo, e me especializando em tango. Hoje o que eu faço é mostrar aos visitantes a cidade com esta “pegada” do tango contemporâneo, como as novas orquestras e as milongas fora do circuito comercial, e não o show para turistas. Além de dar aulas, claro. Em final de fevereiro, esta proposta começou a ser oferecida pelo Airbnb. É a primeira experiência tangueira, em português, pensada para o público brasileiro.

Qual o segredo para uma brasileira ensinar tango na Argentina?

Desde 2009 o tango é considerado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. Ou seja, é do mundo. Buenos Aires está cheia de estrangeiros como eu, que se apaixonaram pelo gênero e decidiram viver na Meca. Eu acho que o segredo é ter tido sido “flechada”.

Quem frequenta suas aulas? Brasileiros são maioria?

Recebo brasileiros, mas eles ainda não são a maioria. Meus alunos são estrangeiros de outros países e argentinos. Gente que faz aula todas as semanas ou somente uma vez para ter a experiência. É bem eclético. Recentemente, por exemplo, dei aulas a dois agentes do FBI americano e a quatro aposentados ingleses que participavam de um reality show. A maioria dos brasileiros ainda vem para Buenos Aires em busca do circuito tangueiro mais comercial, do show para turistas. Mas isso vem mudando, aos poucos, em função do crescimento da dança no Brasil.

Como é o mercado de tango no Brasil?

O Brasil é o país mais promissor para o tango nos próximos anos de acordo com o Informe sobre Mercados de Turismo de Tango, elaborado pela consultoria TangoTecnia, especializada em estatísticas tangueiras. O estudo leva em conta vários fatores. Entre eles, o incremento recente de novos bailarinos no país, o nível de baile e o número de horas mensais dedicadas às classes. Diferente da Europa, por exemplo, onde há mais bailarinos de nível intermediário e avançado, a massa de alunos do Brasil é principiante, ou seja, há uma grande demanda por professores, cursos e viagens de especialização.

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Argentinos olham com desconfiança quando diz que ensina tango?

Nunca tive problema com isso. Dou aula há quatro anos em uma milonga (que é como chamamos os lugares onde se dança tango), com alunos de diferentes nacionalidades e em parceria com outros dois professores, que são argentinos. Como em qualquer carreira, o que vale é o conhecimento e o trabalho sério. O tango na argentina é muito mais que dança, faz parte do DNA.

Recebes muitos convites do Brasil para ensinar?

Dou aulas particulares, em casa, e em duas milongas, mas tenho orientado meu trabalho para o turismo receptivo. Ou seja, faço um trabalho de formiguinha de divulgação do tango contemporâneo e de salão, especialmente para brasileiros. Buenos Aires tem cerca de 200 lugares de baile por semana, metade deles com música ao vivo, às vezes com orquestras jovens com mais de 10 músicos.

Minha “missão” é convencê-los a visitar estes lugares e – se possível – dar uns passinhos e não somente fazer uma foto com o bailarino de tango no Caminito. Como outras músicas de raiz, a exemplo do fado e do samba, o gênero passou por um processo de renovação na música e na dança, com muita atividade de vanguarda para descobrir. A versão estereotipada, do tango de Perfume de Mulher, é sua faceta mais conhecida, mas não é a única. Em dezembro participei em Recife do Seminário Internacional de Turismo Criativo, que reuniu experiências de diversos países com este enfoque, de mostrar aos turistas a cultura local dos lugares visitados, para além do que está no cartão postal.

A carreira é promissora? Vale a pena?

O “vale a pena” é muito relativo. Viver de dança é difícil em qualquer país, por isso optei por uma carreira que mescla a docência com o turismo. Trabalho em grupos pequenos, de até oito pessoas, para dar uma atenção especial a todos. Então não dá para ficar rica, mas dá para ter qualidade de vida. É um privilegio, eu diria que é até um luxo, que me paguem para mostrar a cena tangueira, Troquei a correria do jornalismo por dançar com música ao vivo quase todos os dias e acho que fiz um bom negócio. Estar no Airbnb, com uma experiência direcionada aos brasileiros, abre uma janela importantíssima que seguramente vai aumentar o fluxo de trabalho. A longo prazo, meu sonho é poder produzir projetos culturais no Brasil, como levar as novas orquestras de tango para tocar aí.

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