Orquestra Típica El Afronte invade a primavera europeia!

el afronte divulgação

A Orquestra Típica El Afronte começa no dia 27 de maio uma turnê pela Europa, com agenda em algumas das salas de concertos mais importantes do mundo, como a Filarmônica de Berlim.

O grupo está com disco novo, lançado na Europa e Japão, que em breve chega à Argentina, e organiza todas as quartas-feiras, em parceria com Laura Heredia, a Maldita Milonga, uma das mais bacanas de Buenos Aires (e da qual eu faço parte, com muito orgulho). Nesta entrevista, o cantor Marco Bellini nos conta sobre a turnê e história da orquestra e Laura nos fala sobre a proposta deste espaço de baile.

Marco Bellini – cantor da Orquestra Típica El Afronte

Marco, conta pra gente por onde vocês vão tocar. 

A gente começa nossa turnê na Filarmônica de Berlim, um espaço construído na década de 1960 pelo mítico arquiteto Hans Scharoun. Vamos tocar na sala de câmara, com capacidade para 1.200 pessoas. Depois seguimos para Stuttgart, Baden-Baden e Basileia. Em junho vamos estar em Hamburgo, na Filarmônica de Elba, um espaço novo e de vanguarda, inaugurado em 2017, e construído sobre um antigo armazém de café e cacau, na zona portuária da cidade. É um prédio impressionante! Sobre a estrutura antiga eles construíram uma parte de cristal, que simula a quilha de um barco sobre o Elba.

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Filarmônica de Elba, em Hamburgo, Alemanha

 

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Qual é a tua proposta como cantor da El Afronte?

A Orquestra Típica El Afronte surgiu há quase 15 anos, com a ideia de explorar o gênero tangueiro, mas com uma pegada original e independente.  Como cantor, minha busca sempre foi, a partir da técnica, buscar  timbres novos e que se distanciassem do estilo tangueiro tradicional. Me concentrei nas interpretações com carga dramática, em avivar minhas performances com um compromisso no desenvolvimento das minhas habilidades histriônicas. É um trabalho que faço em conjunto com Mariano Bustos, o compositor das canções da banda.

Quais são as tuas influências?

Por lado, influências dos grandes cantores das orquestras de Pugliese e Troilo.  Especificamente, Maciel, Fiorentino, Ruiz e Goyeneche marcaram meu desenvolvimento como cantor. Mas seria impossível cantar como canto hoje sem  ter escutado desde cedo cantores como Robert Smith, do The Cure, David Bowie, Frank Sinatra e Jacques Brel.

Qual é a letra do repertório atual que você mais sente, ou a que mais te toca, ou que você mais curte interpretar?
“Pozo de sombras” tem um significado forte para a história da orquestra e sem dúvida é uma das que mais me dá prazer em interpretar. Por outro lado, o conteúdo sociopolítico de “Calle”, em relação à nossa história recente e ao presente, também me interessa muito.

 

Escutem o disco novo da Orquestra Típica El Afronte em Spotify

 

Leia também: Aquí me Quedo Experiências Tangueiras

 

 Laura Heredia – organizadora da Maldita Milonga 

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Laura, qual a diferença da Maldita Milonga em relação a outros espaços do circuito tangueiro?

Fomos uma das primeiras milongas a oferecer um espaço estável com algumas características bem peculiares: tango atual, com uma orquestra que toca composições contemporâneas, um grupo de gente que propõe uma visão do tango dos nossos dias, e com uma aula pensada para abrir portas a todos e todas.

O te interessa transmitir como professora? Quando você se sente satisfeita com o trabalho de um aluno?

Na aula para principiantes, me interessa transmitir que o tango lhes oferece uma oportunidade de se conectar com outras pessoas, de desenvolver consciência corporal, de ser parte de una comunidade na qual todos importam. Por um lado, ao terminar cada aula, lhes contamos algumas regras que é preciso respeitar para poder participar do tango dança junto com os demais, como a direção na qual se dança e o respeito pela pista. Destacamos o maravilhoso que é se conectar com outra pessoa através de uma abraço bailado, sem importar nem o idioma, nem a experiência, nem a religião, nem a ideologia, nem a situação econômica ou o gênero. Durante o tempo que dura uma tanda (quatro tangos, ou três valsas ou milongas) vamos abraçar alguém, escutá-lo e ser escutado. Tem gente que durante todo o dia não recebe nenhum abraço.

Quais foram as mudanças na milonga nos últimos anos, em relação às mudanças na sociedade?

A milonga está incorporando uma perspectiva de gênero na qual os papéis já não são os que se fixaram no passado, como o homem leva e a mulher segue, por exemplo. Cada vez vemos na pista casais do mesmo gênero ou cambios de roles de acordo com o gosto de quem dança.  Em muitos casos, já não se sente cômodo convidar para dançar somente com o “cabeceio, é possível se aproximar e convidar com uma palavra, sem o peso da frustração ante uma resposta negativa. Buenos Aires tem hoje muitas milongas e práticas de estilo mais informal, que alguns chamariam de “under”, onde se pondera que o tango suceda como espaço de cultivo de nossa cultura, identidade e laços sociais, sem importar a  vestimenta, a experiência dentro do gênero nem o lugar e onde se vem.

Qual é o papel da milonga num momento como o de hoje, de crise econômica?

Com a situação terrível que atravessamos os argentinos, com o fechamento permanente dos espaços de baile e centros culturais, com a pauperização econômica que faz com que as pessoas se isolem e caiam em depressão, sustentar uma milonga é brindar um lugar de saúde, de resistência e de encontro apesar de tudo, onde podemos resgatar o humano das misérias cotidianas.

 

MALDITA MILONGA

Peru, 571 – San Telmo

Todas as quartas-feiras, 21h

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