Primavera em Buenos Aires: tempo de tilo!

 

Buenos Aires abusa na primavera.

Não bastassem os jacarandás carregados, e a possibilidade de comprar um ramo de jasmins em cada esquina, nesta época do ano a cidade está tomada por um dos meus aromas prediletos: o da flor de tilo (ou tília, em português).

A árvore que dá essa florzinha miúda é a quinta mais freqüente dentre as cerca de 500 mil da capital argentina e, talvez por isso seu aroma esteja instalado na minha memória como o cheiro de Buenos Aires.

É uma planta de grande porte, pode atingir mais de 40 metros de altura, símbolo da amizade e da fidelidade, e considerada sagrada pelas antigas civilizações, que lhe atribuíam qualidades protetoras e várias lendas associadas.

A mais conhecida delas está ligada à mitologia.

Conta-se que Cronos, o deus Saturno dos romanos, se apaixonou e seduziu Filira, ninfa de uma extrema beleza, filha do Oceano e de Tétis. Acontece que ele tinha uma esposa, Reia, que não gostou nada dessa história. Um dia, para não ser apanhado em flagrante de adultério, Cronos transformou-se num cavalo.

Tempos depois, Filira teve um filho, metade humano, metade cavalo, a quem chamaram Quíron. Desesperada por ter um filho centauro, a ninfa o abandonou. Os deuses a transformaram numa tília, a árvore que dava flores e folhas medicinais.

Além de histórias assim, a tília tem um monte de propriedades medicinais e uma excelente madeira. É composta quimicamente de óleo essencial, flavonóides mucilagem, ácidos fenólicos, taninos, manganês e vitamina C. Seu chá, feito das flores secas, é utilizado para todos os problemas “dos nervos”. Depressão, insônia, estresse, esgotamento.

Também constitui um excelente sudorífico, muito recomendado em estados febris. É ainda útil no alívio de dores de cabeça e insônias e digestões difíceis.

Importante: não pode ser usado por gestantes e lactantes. Para quem tem uso liberado, uma boa mescla é uma infusão aromatizada como tília, laranja e maracujá, que é super calmante.

Procurando informação para esta coluna, descobri no blog O Baú da História que estou super bem acompanhada na minha paixão por esta flor. Goethe, em “Os infortúnios do jovem Werther”, faz enterrar o seu personagem principal debaixo de uma tília. Schubert, no seu ciclo” Winterreise”, (Viagem de Inverno) de 1827, compôs  “Der Lindenbaum” (A Tília). Homero, Plínio, Horácio e Heródoto também escreveram sobre esta árvore e as suas virtudes.

Para ficar aqui mais pertinho, a tília também foi tema de soneto de Florbela Espanca e título de um livro do argentino Cesar Aira. 

 

 

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