Promessas sobre o bidê: adeus a um clássico argentino

 

O uso do bidê foi a minha primeira “pequena-grande” diferença cultural na Argentina. Recém tinha chegado ao país, recém conhecia o Edu, e eis que se instalava uma celeuma na casa. Eu usava o utensílio do banheiro como armário para a minha nécessaire, ignorando o sacrilégio contra este que – vim a saber depois – é um símbolo nacional. Nossa primeira conversa “delicada”.

O Edu, com seu tradicional bom humor e informação histórica, me esclareceu que o bidê não era lugar de guardar nada. Pelo contrário. Era um clássico argentino, utensílio oriundo da França e usado por aqui para seus fins originais. Explicou-me que a obrigatoriedade de inclusão do bidê em todas as construções datava do Código de Edificação, de 1943, e que argentino nenhum cogitava se hospedar em hotel sem bidê.

Mais respeito, garotinha!

 

Imaginem então o papo que tivemos aqui em casa hoje quando o Edu me contou que o bidê não será mais obrigatório no País. O novo Código de Edificacão, sancionado pela Legislatura Portenha, visa melhorar a acessibilidade dos banheiros e aumentar seu espaço livre. Discussão mais quente que a alta do dólar!

 

A história do bidê

O bidê, ou bidet no original, foi criado na França XVIII, para higienização das partes íntimas depois do sexo, especialmente pelas mulheres. A palavra significa “cavalo pequeno” na língua de seus inventores, porque justamente é preciso montá-lo para usá-lo como sanitário. Também era chamado de “Le confident des dames” (o confidente das dama). Adorei.

Sobreviveu à Revolução Francesa e, segundo contou ao Clarín o diretor do Museo del Agua y de la Historia Sanitaria de AySA, Jorge Tartarini, foi considerado chave para a saúde pública depois da Segunda Guerra Mundial. Ele diz que os parisienses riam dos ingleses que viam um bidê pela primeira vez e o usavam para urinar, lavar os pés e a meias.

Que diriam dos que o usam como porta-nécessaire?

Naqueles tempos, o bidê era portátil, e podia ser levado a vários cômodos a casa, mas era utilizado mais comumente no quarto.

Nunca foi aceito pela totalidade dos europeus, especialmente por estar ligado ao sexo e à luxúria. Muitas vezes esteve relacionado à prostituição – de fato, era um “serviço” oferecido habitualmente nos bordéis –  e seu uso era compartilhado entre prostitutas e clientes. Também tinha fama de ser usado para praticar abortos.

 

A chegado do bidê à Argentina e seu uso ao contrário

O bidê teria chegado à Argentina por volta de 1880, quando Paris era a meca cultural do país. Os locais viajaram à França, deram de cara com este objeto e foi paixão à primeira vista!

Virou objeto imprescindível até hoje, com um detalhe curioso: os argentinos usam o bidê ao contrário. Segundo o pesquisador Tartarini, o modo correto de usá-lo é de frente para a parede, com a chuvinha na dianteira. “Descubrir que toda a vida o usamos ao contrário talvez nos faça sentir um pouco ridículos quando tateamos as torneiras nas nossas costas para abri-las ou fechá-las. Ou não. Depois de tudo, desenvolvemos nosso método próprio”.

Nessa minha rápida pesquisa histórica, descobri o seguinte: nos Estados Unidos o bidê é praticamente um desconhecido! É muito mais usado na Europa (especialmente na Grécia, Itália, França, Espanha e Portugal – os alemães o consideram anti-higiênico), e na América Latina os campeões de uso são Argentina e Uruguai, onde o bidê está presente em 90% das casas! No Oriente Médio e na Ásia, sobretudo no Japão, pode ser encontrado em banheiros públicos.

3 Comments

  • Abraao Jr disse:

    Sensacional!

  • ana disse:

    Depois de toda uma vida convivendo com bidê na casa dos meus pais – e de muita gente aqui no em São Paulo – acabei de descobrir o lado “certo” de uso, olhando para a parede, E FAZ TODO SENTIDO ISSO!!!
    kkkkkkkk
    Adorei o post, tinha que deixar um comentário, pq acho que muita gente, aqui e aí, “sentam do lado errado”…
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    bjs, longa vida ao site!
    Ana

  • Rita Souza disse:

    Compartilho que sempre usei o bidê de forma errada tb. Agora que descobri como deveria ser usado.

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