São Nicolau – Caminho das Missões – Dia 1

Caminho das Missões - São Nicolau

 

São Nicolau foi a primeira parada do Caminho das Missões. Acompanhe o segundo post da série sobre as reduções jesuíticas. 

caminho das missoes

Te cuida, Paulo Coelho!

Dizem que o Caminho começa quando você sai de casa. O meu teve início numa viagem de 10 horas de ônibus, de Buenos Aires a Santo Tomé,  ainda na Argentina, e depois de lá, cruzando a fronteira, até São Borja. Em seguida, tomei outro ônibus até Santo Ângelo, onde fica a sede do Caminho das Missões. 

Ao chegar, junto com o grupo recebi as informações técnicas, um breve histórico sobre as Missões e o roteiro.

E ainda a credencial do peregrino, que a gente vai completando com selinhos durante todo o trajeto. Os desenhos são lindos, inspirados no artesanato em madeira feito pelos índios guaranis e reproduzem animais como tatu, coruja, onça, macaco e cobra.

Participamos também de uma preparação mística (não é obrigatório), com entrega de um amuleto e cajado feito pelos índios.

 

caminho das missões cartao do peregrino

A Marta Benatti, do Caminho das Missões, e um cartão de peregrino completinho!

Éramos somente três pessoas caminhando (além de mim, a Elizabeth e o Miguel, um  casal de Santa Catarina, faixa preta em caminhadas). Completavam a equipe, o Lucas Segatto, que estava fazendo um documentário sobre o Caminho, e o Rogerio Peppe, que dirigia o carro de apoio.

Cada participante recebe um “padrinho”, uma pessoa que “te cuida” no Caminho em caso de necessidade. Eu precisei do meu!

De Santo Ângelo fomos levados até o local onde inicia a caminhada, em São Nicolau.  Fazia um frio de rachar! Deixamos a mochila na pousada e fomos conhecer o sítio arqueológico.

 

 

Caminho das Missões – São Nicolau

missoes mapa

As missões tiveram dois períodos. No primeiro, entre 1626 e 1634, os jesuítas fundaram 18 povoados na região onde hoje é o Rio Grande do Sul, mas estes lugares não sobreviveram aos ataques de exploradores. Na segunda fase do ciclo missioneiro, os jesuítas fundaram outras sete reduções, conhecidas masi tarde como os Sete Povos das Missões.

Uma destas reduções foi a de São Nicolau, única do primeiro ciclo missioneiro a ser refundada. Foi a partir dela que se expandiu o trabalho de evangelização na região. Dizem os historiadores que São Nicolau foi redução muito alegre, com muita música, cantos, dança e teatro. E que os melhores escultores em madeira das Missões estavam por lá. Chegou a ter 7.500 habitantes por volta de 1732.

caminho das missões - São Nicolau 1920

Essa foto das ruínas de São Miguel, de 1920, dão uma ideia do abandono das reduções

O sítio arqueológico, parte do Patrimônio Nacional, fica no meio da cidade e pode ser visitado a qualquer hora. Exatamente por isso, e como ficou abandonado por muitos anos, foi bastante depredado. Hoje restaram partes do piso original, do cabildo, da igreja, da adega e do sistema de esgoto. Na cidade também se pode vistar uma exposição sobre os trabalhos de escavação arqueológica, executados em 1980.

Primeira lição: há muita disparidade de conservação entre as reduções, mas que a gente não se engane! Cada uma traz um pedacinho de história, que nos ajuda a compor o quadro completo no final da viagem.  Adega, por exemplo, eu só vi em São Nicolau.

sao nicolau caminho das missoes

Caminho das Missões - São Nicolau

É visível o uso das pedras da redução na construção de casas e muros.

Caminho das Missões - Saõ Nicolau

Detalhe da  mostra “Fragmentos de uma Civilização”

1º Dia: 31,58 km.  Rincão dos Teixeira

Depois da visita ao sítio arqueológico, voltamos para a Pousada dos Jesuítas (simples mas com bom banho, cama ok e excelente jantar e café da manhã), onde fomos recebidos com um belo fogo na lareira! Descansamos e nos preparamos para o primeiro dia de caminhada, que para mim foi bem difícil.

sao nicolau caminho das missoes dia 1

O mais longo e o mais frio!

Essa foto ao lado tá meio fora de foco, mas a publico para que vocês tenham ideia do horário que a gente saiu para caminhar!

Tinha muito tempo que eu não via o nascer do sol, e as imagens desse dia foram esplendorosas.

A nossa meta era cumprir 17,6 km até o meio-dia e chegar a tempo de almoçar na casa da Dona Irene Both, que serve de apoio aos grupos.

caminho das missões dia 1

caminho das missoes

Sempre um guaipeca pelo caminho, anunciando a nossa chegada!

É preciso entender que caminhamos por estradas rurais, onde não há bares nem restaurantes. Para comer, quiçá algum bolicho, mas quase sempre estão somente as casas das famílias, previamente agendadas. Por sorte, a Dona Irene – uma das muitas mulheres super empoderadas que vim a conhecer no Caminho – nos esperava com uma comida bem campeira. Um baita churrasco e mandioca bem molinha!

caminho das missões Irene Both

caminho das missoes dia 1

Colhemos verdura na horta, trocamos receitas e por muito pouco a tarde não termina em tragédia: o cachorrinho dela se engasgou com um pedaço de carne e foi um “deusnosacuda” até  ter certeza que ele estava bem!

São Nicolau – Rincão dos Teixeiras

Confesso que cheguei na Dona Irene meio estropiada – nunca tinha caminhado 17km. E ainda faltavam mais 15km! Não teria conseguido caminhar no dia seguinte se não tivesse tomado um relaxante muscular quando cheguei, no final da tarde. Nesta segunda noite dormimos numa escola rural desativada, casa da Dona Antônia.

Se na primeira ficamos em quartos individuais e numa pousada, nesta segunda saímos bastante da zona de conforto. Quarto coletivo, sem calefação e comida muuuito simples. Eu tava tão cansada que não vi nada. Dormi direto. O lugar se chamava Rincão dos Teixeiras! Em casa.

Importante: embora não seja sedentária (nado e faça atividade física regular), não tinha me preparado para caminhar. Senti muito esse primeiro dia. Ou seja, foi puxadinho. Não tô aqui pra enganar ninguém!  😎

No post que vem, seguimos para São Luiz Gonzaga!

caminho das missões dia 1

Dona Antônia e seu caderno de peregrinos visitantes.

Leia também:

Caminho das Missões – Dicas Gerais 

 

3 Comments

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *