Escrevi ontem uma nota para o jornal O Povo, de Fortaleza, sobre a morte do ex-presidente Kirchner. Reproduzo abaixo o texto e o vídeo que menciono no início da matéria.
No dia 24 de marco de 2004 – aniversário do início da mais cruel ditadura militar da história Argentina – o ex-presidente Nestor Kirchner foi protagonista de um ato histórico.
No Colégio Militar da Nação, ordenou ao tenente general Roberto Bendini que subisse em um banquinho e retirasse da parede os quadros dos ditadores Jorge Videla e Roberto Bignone, que impuseram o terrorismo de Estado no país entre 1976 e 1983.
Nas primeiras filas, 27 generais e cinco coronéis. Desnorteados.
O ato durou segundos, mas foi extremamente simbólico. Tanto que o vídeo desta cena foi um dos mais vistos ontem na Argentina, após o anúncio da morte de Kirchner.
Denunciava uma concordância silenciosa de que, independentemente de sua figura controversa, apenas por esse gesto Kirchner merecia ser respeitado – e recordado.
A morte do ex-presidente pegou os argentinos de surpresa, ainda acordando. Embora todos soubessem do quadro de saúde débil de Kirchner, ele não estava hospitalizado nem agonizando.
A cidade estava em silencio em função do feriado nacional, decretado pelo governo para a realização do Censo 2010, com todos os estabelecimentos comerciais fechados. Na medida em que a população ia se inteirando da notícia, à calma da cidade se sobrepôs o silencio do estupor.
Em seguida começou o troca-troca de emails, mensagens via Facebook e Twitter. Televisões e rádios ligados em tempo integral. Um processo que culminou à noite, com uma vigília que entrou madrugada adentro, em frente à Casa Rosada. O velório será hoje, no mesmo local, a partir do meio dia, e o enterro está programado para amanhã.
Claro que já começaram a especulações sobre o futuro político do país, tendo em vista que Kirchner era o principal candidato à presidência nas eleições do próximo ano.
Além disso, muita gente defende que era Kirchner quem verdadeiramente sustentava a governabilidade, costurava estratégias, negociava com os governadores. Teria Cristina agora pulso para seguir comandando a Argentina?
Há quem aposte que não. Outros creem que a presidente vai crescer “ante la desgracia” e o sentimento de orfandade que paira em parte da população neste momento, e deve ser a candidata oficial do governo ao pleito.
Pessoalmente, humilde opinião de quem está na Argentina há apenas dois anos, espero que Cristina siga em frente. Depois de Meném, De La Rua e Duhalde, este governo é um luxo. Além disso, a oposição não tem um nome forte para a sucessão e é muito desarticulada para aproveitar os momentos de revezes do governo.
Os argentinos, no entanto, são imprevisíveis e trágicos. Para saber o futuro, “hay que esperar”.
Nossa Gi, agora sim este país é um tango.É muito triste. Não tenho coragem de ir ao funeral, nem pra escrever…
íncrivel a coluna chica, gracias pela boa leitura.
Muy bueno ese acto.Indispensable.Pero él
tendría que haber nombrado a Ricardo Alfonsin,que fué el único en Latinoamérica
que se atrevió a juzgar a una dictadura.
Me equivoqué. En lugar de poner Raúl Alfonsín, puse Ricardo,que es su hijo. Pido
disculpas.
Alfonsín borró con el codo cualquier acto de heroismo democrático en las pascuas del 87, cuando pactó con los milicos el perdón a cambio de aplacar los levantamientos…se acuerdan? felices pascuas? hay que acordarse…
el famoso carácter de confrontación de Nestor, era eso, bancarse las decisiones en el tiempo, sin importar las presiones.
Asi que el primer presidente en atreverse a juzgar a los milicos y mantenerlos en cana, no fue Alfonsin, fue el pinguino, señores!…no se engañen.
Con mi vieja no te metás!!
Noffa! Que coragem!
Belo texto Gisele, infelizmente sobre grande perda.
Abraços