São Lourenço Mártir – Caminho das Missões – Dia 4

sao lourenço martir

 

São Lourenço Mártir foi a segunda redução jesuítica visitada no Caminho das Missões. Diferente de São Nicolau, que fica no meio cidade, este sítio é isolado, a 30 km de São Luiz Gonzaga, o que nos ajuda a imaginar a grandiosidade do que foi na época. Foi nele que comecei a me contactar com a ancestralidade do povo guarani. O silêncio, as árvores centenárias, os vazios, as ruínas – começou outra viagem dentro da viagem.

Em São Lourenço também comecei a entender a organização interna desses espaços, similar em todas as reduções.  A forma como elas estavam arquitetônicamente pensadas e a vida que corria lá dentro. Uma coisa que não sabia e fiquei pasma: cada redução era habitada por somente dois padres e aproximadamente 6 mil índios!

São Lourenço Mártir

A formação das reduções era assim: os padres fundavam um lugar, e quando este atingia um número grande de habitantes, era conformada uma equipe que escolheia um novo local e para lá partiam para criar uma nova redução. E assim eles foram avançando.

  • São Francisco de Borja, fundada em 1666
  • São Nicolau, 1687
  • São Luiz Gonzaga, 1687
  • São Miguel Arcanjo, 1687
  • São Lourenço Mártir, 1690
  • São João Batista, 1697
  • Santo Ângelo Custódio, 1706

São Lourenço Mártir foi fundada em 1690 pelo desmembramento de Santa Maria Maior, na Argentina,  de onde vieram 3512 índios catequizados. Eles chegaram com o padre Padre Bernardo De La Veja, encarregado de organizar o povoado. Sua população ultrapassou os 6.400 habitantes por volta de 1731, uma das maiores reduções. 

São Lourenço Mártir

São LOurenço ganhou destaque na criação de gado, cavalos e ovelhas, cultivo da erva mate e roças de milho, mandioca e grãos.

As ovelhas da raça missioneira (Crioula Lanada), aliás, a mesma raça criada na época da antiga redução, hoje correm livres no sitio arqueológico. Fazem parte de um projeto realizado pela Prefeitura Municipal de São Luis Gonzaga, em parceria com o IPHAN. Nasceram a partir de materiais genéticos armazenados na EMBRAPA de Pelotas e hoje, junto com as ruínas, ajudam a contar a história de São Lourenço Mártir.

São Lourenço Mártir

São Lourenço Mártir – organização interna das reduções

Todas as reduções tinham organização similar. A divisão básica era feita em dois grandes conjuntos. No primeiro estavam a igreja, as oficinas, o cemitério e a casa dos padres. Ao redor da praça central nas outras três faces, com uma mesma característica arquitetônica, estavam os pavilhões destinados à vida comunitária e habitação dos índios. Atrás da igreja, o pomar, a horta, o jardim e depósitos.

São Lourenço Mártir

Na praça aconteciam todos os eventos de importância cívica e cultural, como comemorações, procissões, jogos, teatro. Era também local onde se exercia a justiça.

A Igreja – obviamente – era o principal prédio do complexo jesuítico, e recebia os principais cuidados estéticos e arquitetônicos. Os materiais utilizados eram os encontrados na região – pedras, para as paredes dos principais prédios dentro da redução, e argila, para os tijolos, telhas e piso. As edificações missioneiras possuíam grandes alpendres e pátios internos.

Existia ainda um conselho misto, o Cabildo, onde eram tomadas decisões. E um espaço chamado cotiguaçu, destinado às crianças orfãs, viúvas e mulheres sozinhas.

São Lourenço Mártir – A vida na redução

Os jesuítas eram metódicos e tinha regras claras para o funcionamento das reduções. Durante dois dias da semana, os índios homens trabalhavam para a produção de alimentos para a coletividade (tupambaé) e nos outros quatro trabalhavam para a produção de alimentos para a sua família (abambaé). No domingo não se trabalhava! Era dia de ir à missa e à catequese, que era ministrada em língua guarani.

Os homens faziam os trabalhos rurais, de carpintaria, em ferro, arte e artesanato. As mulheres cuidavam das crianças, cozinhavam, teciam e eram encarregadas de todo o serviço doméstico.

Santuário do Caaró

Esse dia, que envolveu uma caminhada de 22,8km no frio e no barro, terminou no Santuário do Caaró, onde passamos a noite. O Caaró é hoje um lugar de peregrinação para milhares de fiéis em busca da água do lugar, dita milagrosa. Nesta região morreram três padres jesuítas, pioneiros na catequização dos índios, em 1628. Em homenagem a eles foi erguida Capela dos Santos Mártires. O lugar tem ainda lindo pomar.

Eu confesso que cheguei muito cansada e curti mesmo foi ficar conversando com o Padre Danilo (que nos fritou uns deliciosos pastéis) e a Dona Vilma. Dormimos num espaço que pertencia à paróquia.

No dia seguinte partimos para São Miguel, um dos pontos altos da Caminhada das Missões.

 

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