Trottoirs de Buenos Aires, o bar que mudou a história do tango

Trottoirs de Buenos Aires

Fundado em 1981, no bairro de Les Halles, em Paris, Trottoirs de Buenos Aires foi um bar fundamental na história do tango e do renascimento do gênero no mundo. Sem ele, quem sabe, o tango não seria hoje o que é. Não que tivesse morrido, mas talvez fosse outra coisa.

Sonho de um grupo de 23 amigos, mais do que um espaço de encontro de artistas exilados na capital francesa em função da ditadura militar argentina, foi reduto de resistência do tangueira quando o gênero passava por seu pior momento de baixa – e um dos responsáveis por seu renovado interesse no exterior.

 

A história deste estaço está retratada filme “Un sueño en París”, de Sergio Costantino, que pode ser visto em Cine.ar a partir de 30 de julho 2020.

 

 

A ideia de montar o lugar surgiu ainda nos anos de 1970: ter um espaço que difundisse o melhor da música e da poesia do tango em Paris.  Levou uma década para sair do papel!

Edgardo Cantón, um compositor argentino radicado na França desde os anos de 1950 e amigo de Julio Cortázar, foi o responsável por começar a titânica tarefa de reunir socios interessados a dar vida a essa ideia, entre eles a cantora Susana Rinaldi, os pintores Pérez Celis, Antonio Seguí e Octavio Blasi.

O nome da tangueria, que em espanhol significa “Veredas de Buenos Aires”, veio do próprio Cortázar em uma conversa com Cantón. Algo como ruas de Buenos Aires, em português, com o sentido de encontro social também.

Três anos antes, Cantón e Cortázar haviam gravado um disco de mesmo nome, cujos tangos tinham letras do escritor, música do compositor e voz de Juan Tata Cedrón. O post Cortázar e o Tango fala especificamente sobre este disco.

Leia também: a relação de Cortázar com o tango 

A inaguração do Trottoirs de Buenos Aires foi em 19 de novembre de 1981, na rue des Lombards N° 37, com a atuação do Sexteto Mayor, um dos melhores conjuntos de tango do momento, que tinha sido contratado para tocar por duas semanas e acabou tocando dois meses!

Dizem que ao final desse primeiro espetáculo, o bandoneonista José Libertela, diretor do Sexteto, teria se dirigido a Cortázar e pedido que ele elegesse um tango, e que o escritor, sem pastanejar, teria pedido El choclo.

cortazar no trottoirs de buenos aires

Foto gentileza produção Un Sueño en Paris

A casa fez um sucesso absurdo em Paris, cidade com forte ligação com o tango desde a década de 1920, quando foi furor. Era a primeira casa de tango que abria na capital desse esse primeiro auge, quando chegou a ter diversas tanguerias, entre elas El Garrón de la rue Fontaine, a mais famosa.  Assim, abriu espaço para que muitos argentinos passassem por seu palco.

Ao longo desses anos, passaram pelo Trottoirs de Buenos Aires o Sexteto Tango (ex-músicos de Osvaldo Pugliese); o dúo Horacio Salgán-Ubaldo De Lío; Rubén Juárez, Guillermo Galvé e a própria Susana Rinaldi, que além de sócia também esteve nos palcos. Pugliese tocou por lá em sua festa de aniversário de 79 anos, ainda que pelo tamanho da orquestra teve que fazer o show num teatro. O bar fechou as portas em maio de 1994, mas sua missão já estava cumprida. 

 Trottoirs de Buenos Aires

Contracapa do vinil de Trottoirs de Buenos Aires

No rastro desse êxito nasceu mais tarde “Tango Argentino“, um espetáculo que reuniu música e dança, dirigido por Claudio Segovia e Héctor Orezzoli, que ajudou em muito nessa retomada tangueira pelo mundo.

Fragmentos do filme Un Sueño en Paris,

sobre o Trottoirs de Buenos Aires

 

 

Leia também:

Contos de Cortázar para ler online 

As pegadas portenhas de JUlio Cortazar 

Os cronópios agora têm a sua esquina 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *