Pela primeira vez, as tangueiras marcham juntas hoje para visibilizar o machismo e a violência no tango em seus diversos ambientes, além de propôr alterações em códigos milongueiros que – em nome da “tradição” – estigmatizam e subordinam o gênero feminino.
O grupo marcha no #8M com a bandeira do recém-criado Movimento Feminista de Tango (MFT), grupo que nasceu da constatação de que pistas e palcos reproduzem e manifestam as desigualdades que afetam as mulheres em outros âmbitos da sociedade.
Desde o dia 5 de fevereiro, um coletivo de mulheres tem passado pelas milongas de Buenos Aires para divulgar um manifesto e algumas propostas que poderiam deixar as pistas – e as aulas de tango – um pouco mais igualitárias.
Entre os questionamentos está a continuidade, e inclusive exaltação, de códigos milongueiros que estigmatizam e subordinam a mulher, como a “passividade” no papel de seguidor, a associação obrigatória desse papel com o gênero feminino e o convite ao baile como uma prerrogativa masculina, com a justificativa de manter a tradição.
Outros temas são a expulsão de casais gays, lésbicas e trans de algumas pistas mais tradicionais, que desconsideram inclusive o “cambio de rol” e a igualdade no baile. A ideia é discutir também os efeitos do “não”no cabeceo.
#8M – Desigualdade nas pistas
Entre as desigualdades detectas nas pistas estão:
- Desvalorização do papel profissional da mulher: menos ofertas de trabalho e salários menores, ênfase no aspecto físico e não no talento artístico. Acosso e chantagem sexual.
- Violência física e psicológica a bailarinas e artistas por parte de seus companheiros.
- Acosso sexual na pista, durante as tandas.
Para o movimento, estas situações são produto de uma ordem social patriarcal, herdada, perpetuada e aperfeiçoada ao longo dos anos, e reproduzida inclusive pelas mulheres. “Cada pessoa que habita esta sociedade tem sua parte de responsabilidade na manutenção da cultura machista. Acreditamos que, como toda a construção social, é possível modificá-la com o compromisso e o trabalho de todas e todos” diz o manifesto.
Leia o texto completo na página do MFT no Facebook.
#8M – Propostas do MFT
- Repudiar e denunciar qualquer execício de violência e acosso sexual, e se solidarizar com as mulheres que dão voz a estes problemas.
- Evitar a “competição” entre mulheres: la otra es mi igual, no mi enemiga.
- Cuidar (quem organiza e quem participa) para que as milongas e qualquer outro espaço de trabalho (casas de tango, aulas, escolas, etc.) sejam espaços respeituosos, a onde não se admita nem o acosso nem a violência e se proteja as mulheres violentadas.
- Assumir que qualquer pessoa pode convidar para dançar, com cabeceo ou aproximando-se, e respeitar o “não”, sempre: antes, durante e depois da tanda. Sem distinção de gênero, Não é Não.
- Entender e celebrar que o tango é uma dança entre pessoas, sem se importar seu gênero, idade ou aspecto.
Leia outras matérias sobre tango no Aquí me Quedo
Semana de conscientização do gênero no tango
Terça: Ventanita de arrabal, Vuela el pez, Tangótica, La María.
Quarta: La Mandrilera, Zona Tango, Seguimos si podés.
Quinta: Batacazo, Milonga Federal, Chauche Club.
Sexta: Zum, Parakultural, Yira Yira, Las malevas, Patio de tango.