La Empoderada: música, feminismo e revolução!

La Empoderada é uma orquestra de tango que reúne 30 mulheres de diferentes partes da Argentina e exterior, com um repertório integrado exclusivamente por temas compostos, interpretados e arranjados por mulheres e dissidências.

Tangos novos, potentes, revolucionários e feministas!

la empoderada

Fotos gentileza La Empoderada

A diretora e violinista Pamela Victoriano (esq.) e a contrabaixista Daniela Augurio conversaram com Aquí me Quedo.
Nesta entrevista, elas contam aos brasileiros sobre este projeto cooperativo e autogestionado, que está alicerçado em dois eixos: o musical e o dos princípios e demandas do movimento feminista.
Confiram no post!
Como surgiu a orquestra La Empoderada?

 

A orquestra nasceu em 2018 a partir de um grupo de Facebook que criamos para reunir músicas mulheres. A princípio era mais para estarmos juntas, mas em duas semanas chegamos a 5000 ! Quando a gente se deu conta de que éramos tantas, explodiu o desejo de construir espaços musicais de liberdade, onde os direitos fossem iguais para todas. Desse grupo saiu não somente a La Empoderada, mas uma orquestra de jazz (Sisters Side Big Band) e outra de folclore e música latino-americana ( Suculenta Flor de Orquesta).

 

la empoderada

 

Vocês se autodenominam orquestra “atípica” por serem somente mulheres? 

Não somente por ser uma orquestra integrada unicamente por mulheres e dissidências em sua totalidade, mas também porque incorporamos instrumentos que ao longo das décadas perderam peso no tango, como violão, flauta transversal, clarinete e clarinete baixo. E também porque somos muitas, o que não é comum. Tudo é maximizado. Por exemplo, somos seis cantoras que se revezam no palco.

 

As letras também são de mulheres. Há muitas compositoras hoje? 

 

A maioria dos nossos temas são cantados. Alguns com letras de compositoras de muita trajetória e outros que estão sendo interpretados pela primeira vez. Estamos em 2019 e nos posicionamos de outra maneira em relação ao mundo e a nós mesmas, estamos repensando um monte de coisas e queremos empapar o tango com estes novos posicionamentos, não somente no musical mas também na poesia. As pessoas costumam se emocionar muito nos nossos shows porque o conteúdo que levamos é realista e a realidade que vivemos as mulheres é muito dura. Agora, por exemplo, temos um tango sobre violencia de gênero, muito forte, composto por Claudia Levy no final de 1990. Ela nos contou que havia deixado de interpretá-lo porque se sentia sozinha nessa luta. Não está mais!

 

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Como vocês se organizam? 

Nos organizamos em forma de cooperativa e temos 12 comissões, que vão desde o musical até imprensa e gênero. Cada uma assume uma responsabilidade, segundo capacidades e preferências. A ideia é proporcionar um espaço de trabalho mais igualitário, não-violento, menos opressor e menos competitivo.

 

O tango é um gênero tradicionalmente machista. Há mudanças na geração atual? 

 

Sim e não. Avançamos bastante, já tem muita gente entendendo o processo. Todas tocamos em algum momento com colegas homens que nos trataram muito bem, mas raras vezes somos as protagonistas. Ou seja,  o desejo da mulher ainda não está totalmente posto e isso é uma realidade, não uma apreciação nossa. Há âmbitos mais difíceis, por exemplo. É mais fácil encontrar mulheres cantoras do que contrabaixistas ou bandoneonistas, instrumentos “ditos” masculinos. E nem sequer falar em direção. Até nas próprias escolas de música, até hoje somos “sugeridas” a tocar instrumentos como o violino, por exemplo, mas aceitos socialmente como “femininos”. Por sorte, a gente transgride!
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Lei de Cotas para mulheres nos palcos

A participação de mulheres no âmbito musical só tende a crescer na Argentinas. Com 133 votos afirmativos, cinco negativos e seis abstenções, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou em novembro a noite a Lei de Cotas para Mulheres nos palcos do país, que exige uma participação de 30% das mulheres e dissidências nos festivais.

A iniciativa foi promovida por um grupo de mais de 700 músicas de todo o país. A intenção não é apenas tornar as mulheres músicas visíveis, mas também as que desempenham outros papéis: aquelas que montam o palco, produzem luzes, fazem sonoras. Atualmente, segundo dados do Instituto Nacional de Música (Inamu), a porcentagem média de mulheres no palco é inferior a 15%. A Argentina é um dos países mais desiguais a esse respeito.

Os objetivos da nova norma são alcançar a inclusão laboral das mulheres na atividade ao vivo, romper preconceitos com relação à geração de lucros na indústria cultural e possibilitar a multiplicidade de vozes e olhares.

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