O Aquí me Quedo traz uma entrevista com Celeste Rodriguez, professora argentina que mora em Berlim desde 2017, e nos conta como o tango começa a voltar na Alemanha, um dos poucos lugares no mundo onde já estão autorizadas as classes presenciais de dança depois do início da pandemia. As milongas ainda não voltaram, mas há uma expectativa de que não tardem tanto, especialmente as que ocorrem ao ar livre.
Celeste foi a criadora da Domilonga, em Buenos Aires, e atualmente é professora na Tangotanzen macht schön, que desde 6 de junho está com as portas abertas novamente. A gente se conheceu na Argentina, nos formamos juntas no Centro Educativo del Tango de Buenos Aires (C.E.T.B.A.), em 2012, e demos algumas aulas juntas na Maldita Milonga este ano. Seguimos por aqui com nosso contato virtual!
Tango e pandemia: como o tango começa a voltar às pistas
- Como está a situação do tango em Berlim?
Dia 11 de junho dei a primeira classe de tango depois do início da pandemia. É bom lembrar que em Berlim a quarentena nunca foi total, sempre foi sugerida. Em um dado momento, em abril, estava tudo fechado, com somente as farmácias e supermercados abertos, mesmo assim todos podiam sair de casa, no máximo entre duas pessoas. A população respeitou essa regras, o que fez com que a gente pudesse voltar mais cedo.
As coisas aqui começaram a abrir aos poucos, primeiro os restaurantes, depois os bares (somente com mesas do lado de fora), e assim por diante. Mas com o tango foi de um dia para o outro. Na verdade, o que se habilitaram foram as academias de ginástica e as escolas de dança em geral, incluídas aí as de tango. As milongas ainda não estão permitidas.
2. Como é o protocolo paras as aulas?
Cada cidade tem seus protocolos, não é o mesmo Berlin que Leipzig. As regras gerais para todas as danças são as seguintes: um máximo de oito pessoas por sala, independente do tamanho da sala, de de sete ou 40 metros quadrados. Nesse número estão incluídos os professores, ou seja, no caso do tango no máximo três casais por vez. Ou seis alunos se forem aulas de técnica individual. Essa é um determinação de Berlim, há cidades que permitem 16 alunos na sala. As pessoas precisam manter uma distância de 1,5 metros uma da outra. O governo sugere que os espaços tenham duas portas, uma de entrada e outra de saída, mas isso não é obrigatório.
3. Vocês dançam de máscara? Como são as regras para circular na pista?
Não é preciso usar máscaras! Em Berlim, é obrigatório o uso de máscaras somente no transporte público e nos supermercados, mas não nas aulas. Isso ajuda é uma boa notícia. Em relação às regras das aulas, no caso dos casais é preciso que eles vivam juntos ou tenham alguma relação para dançar juntos. Não está permitido o intercambio de parejas, ou seja, que os pares se mesclem e dancem uns com os outros. As inscrições são feitas com antecedência. O problema é que as escolas não possuem o direito de exigir alguma certificação, todos trabalham na confiança. Também não se sabe o que pode acontecer se houver uma inspeção, tudo é muito novo. O que vi na primeira classe é que no final todos se tocaram e se abraçaram, embora com um receio no início. O problema é que já nos conhecíamos de antes, o que dificultou manter a distância, talvez essa relação seja diferente com alunos novos.
3. Há regras especiais para os professores? Quantas aulas vocês oferecem por semana?
Se não vivem juntos, não podem nem se abraçar nem se tocar, muito menos tocar nos alunos. Todas as explicações precisam ser dadas à distância. Mas essa não é uma regra somente para o tango, vale também para outras danças, como o balé, por exemplo. Por enquanto, estou começando com três classes em grupo e sigo com uma online, que estava em andamento durante a pandemia. O problema é que seis pessoas não é nada perto do número de alunos que tínhamos antes, de 20 por aula. A diferença aqui é que a Alemanha é muito rica e repassou 5 mil euros às pessoas que não podiam trabalhar, o que fez toda a diferença na hora de fechar essa conta.
Conheça nosso banco de matérias sobre tango
4. As milongas já reabriram?
A possibilidade de abertura de milongas é mais complexa. Há um rumor de que seriam liberadas milongas ao ar livre no verão, mas as que ocorrem em lugares fechados provavelmente só voltem em dezembro. Berlim tem 14 milongas estáveis, o que é bastante para uma cidade européia. Há uma expectativa de que as milongas possam se beneficiar de regras que estão sendo estudadas para liberar os encontros de música eletrônica na Alemanha, que movimentam muito dinheiro e empregam cerca de 10 mil pessoas. Há uma discussão sobre liberar bailes ao livre, como as raves, no verão europeu. Os clubes noturnos são considerados parte do patrimonio cultural na capital alemã.
Encontre Celeste nas redes sociais:
Instagram: @celeste_rodrigueztango/
Facebook: @celeste rodriguez
